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terça-feira, 28 de julho de 2020

Crescimento físico, maturação biológica e desenvolvimento motor.



Vamos ler um pouco?
Artigo interessantíssimo.
Boa leitura.


CAMPOS, Wagner; BRUM, Vilma Pinheiro. Criança no Esporte. Midiograph: Londrina. 2004.

 

CRESCIMENTO FÍSICO, MATURAÇÃO BIOLÓGICA e DESENVOLVIMENTO MOTOR

Existem inúmeras diferenças físicas entre adultos e crianças. Essas são muito mais complexas do que apenas a estatura e a massa corporal, as crianças apresentam divergentes características quantitativas e qualitativas obtidas através dos processos de crescimento, desenvolvimento e maturação biológica que culminam no indivíduo maduro. Apesar de poderem ocorrer concomitantemente, é importante salientar a definição e a diferença desses processos, que normalmente são empregados de forma indiscriminada.
O crescimento corresponde a alterações físicas no tamanho do corpo como um todo e em suas partes resultantes de hipertrofia, hiperplasia e/ou agregação celular, ou seja, divisão celular e conseqüentemente aumento de massa corpórea, correspondendo às alterações físicas nas dimensões corporais. O desenvolvimento é caracterizado por um fenômeno mais amplo cujas modificações funcionais podem contemplar aspectos tanto quantitativos quanto qualitativos, uma vez que é a forma pela qual o organismo ou parte desse evolui se diferencia e se especializa inclusive em termos comportamentais (conforme discutido no capítulo 1). Esse processo fundamenta-se no ganho de capacidade, caracterizando-se pela seqüência de modificações evolutivas nas funções do organismo. Já o processo de maturação é caracterizado por um conjunto de mudanças fisiológicas que ocorrem de forma ordenada a fim de se atingir o padrão maduro do organismo, ou seja, um padrão no qual a criança irá culminar em um indivíduo adulto (MAFFULLI, et al., 2002; GARRETT e KIRKENDALL, 2000; GUEDES e GUEDES, 2000; ROWLAND, 1996; MALINA e BOUCHARD, 1991).
Dessa forma, esses processos de crescimento, desenvolvimento e maturação biológica ocorrem simultaneamente, porém são distintos e se verificam em intensidades diferentes conforme as variações individuais e a etapa da vida em que a pessoa se encontra, tendo cada um o seu ritmo (GUEDES e GUEDES, 2000; SCAMMON apud TANI et al., 1988).
            Nesse capítulo iremos enfatizar os processos de crescimento físico e maturação biológica, discutindo as diferenças geradas em função do sexo, bem como abordando as implicações no desenvolvimento motor e na prática esportiva da criança.

Crescimento: uma das formas mais utilizadas para acompanhar o crescimento físico, principalmente na primeira infância, é a curva de crescimento. A estatura e a massa corpórea das crianças são mensuradas em um intervalo curto de tempo e a curva gerada por essas variáveis serve como parâmetro comparativo com a média populacional.
              As curvas de crescimento também podem ser geradas baseadas nos diversos sistemas (massa muscular, força, tamanho dos pulmões, coração, etc.). O crescimento sofre influência tanto relacionada à genética, quanto aos fatores extrínsecos do ambiente. São estes: sexo (masculino ou feminino), nível de atividade física, composição corporal, nutrição, nível sócioeconômico, influência cultural, doenças e, além disso, também podemos citar as diferenças étnicas, clima, estações do ano e localização geográfica. Dentre os fatores citados anteriormente, os mais preponderantes são o estado nutricional apropriado e o exercício físico, capazes de aperfeiçoar o potencial genético de crescimento biológico. Uma dieta inadequada ou deficiência em algum componente da dieta pode afetar de forma significativa o desenvolvimento normal da criança. A desnutrição é a causa mais comum, entretanto uma restrição alimentar severa induzida pelo próprio indivíduo, prática mais comum entre classes mais abastadas, pode retardar o crescimento e atrasar o desenvolvimento pubertal (ROGOL, CLARK e ROEMMICH, 2000). Em decorrência da complexa interação entre os fatores citados acima podemos encontrar crianças com crescimento mais (ou menos) acentuado do que outras.
              A hereditariedade é um fator que afeta as taxas de crescimento e desenvolvimento, precipitando ou retardando a maturação fisiológica. Isto porque o tipo genético condiciona uma maior intensidade e/ou velocidade da multiplicação celular; determina o grau de sensibilidade dos órgãos efetores aos estímulos indutores do crescimento; determina a época de fechamento das cartilagens de crescimento e condiciona o aparecimento de doenças familiares capazes de prejudicar o crescimento (MARCONDES, 1978). As informações genéticas herdadas de pais e mães têm influência tanto no tamanho corporal quanto nas características físicas. Estudos feitos com gêmeos idênticos e fraternos levaram os pesquisadores a sugerir que a contribuição genética para a estatura da criança é de aproximadamente 60%, sendo de 60% também para comprimento e diâmetro ósseo (ROWLAND, 1996). Para massa óssea o valor calculado da contribuição genética é de 60% a 80% (ANDERSON, 2000). Com relação a massa corporal, a herança genética é menor, sendo calculada em apenas 40% (ROWLAND, 1996).
              Além da herança genética e de fatores ambientais, a quantidade de hormônios circulante desempenha papel relevante no crescimento físico da criança. Os três grupos de hormônios que mais participam no processo de crescimento e do organismo são os hormônios tireoidianos (tiroxina ou T4 e triiodotironina ou T3), os hormônios gonadais e o hormônio do crescimento (GUEDES e GUEDES, 2000).
              Os hormônios tireodianos (T3 e T4) têm participação no crescimento longitudinal agindo sinergisticamente com o hormônio do crescimento. Entretanto, o T4 e o T3 influenciam principalmente o crescimento de alguns órgãos como o cérebro e o fígado. Esses hormônios também estão relacionados com a diferenciação dos tecidos no primeiro ano de vida. Todas as células do corpo têm em seu núcleo receptores para o T3 e T4; em alguns tecidos a ação hormonal do T3 e T4 é indireta, como por exemplo, a estimulação da produção de fatores de crescimento, que seriam os verdadeiros estimuladores do crescimento tecidual. A deficiência dos hormônios tireoidianos é conhecida como cretinismo, caracterizada por graves falhas no crescimento, no esqueleto, nos dentes e também no desenvolvimento mental (DOUGLAS, 1999).
              Os hormônios gonadais estão relacionados à maturação sexual, crescimento longitudinal e composição corporal principalmente na adolescência (GUEDES e GUEDES, 2000). Eles são responsáveis pelas mudanças típicas na distribuição da gordura corporal (central comparada com periférica, subcutânea comparada com visceral e localizada na extremidade superior comparada com inferior do corpo) (ROGOL, CLARK e ROEMMICH, 2000).
              O hormônio do crescimento (GH) ou somatotrofina é um hormônio secretado pela hipófise anterior, cuja função principal é a de atuar no metabolismo intermediário de lipídeos, carboidratos e proteínas, promovendo o crescimento linear, aumentando a espessura dos ossos, atuando na cartilagem epifisária, no crescimento dos tecidos e órgãos em geral, e induzindo hipertrofia e hiperplasia celular (DOUGLAS, 1999). A liberação desse hormônio acontece em episódios pulsáteis principalmente à noite durante os estágios 3 e 4 do sono (ondas curtas) (TOUITOU e HAUS, 1994), e sua secreção é controlada pelos hormônios hipotalâmicos GHRH ou hormônio liberador de GH e hormônio inibidor da liberação de GH (GHRHI), também denominado somatostatina ou SS. Além disso, a secreção de GH é regulada por hormônios tireodianos, glicocorticóides, esteróides sexuais, neurotransmissores, neuropeptídeos, fator de crescimento (IGR-I), o próprio GH através da retroalimentação de alça curta, e através de substratos metabólicos, tais como glicose, ácido graxos, dentre outros (DOUGLAS, 1999). A deficiência do GH causa o desenvolvimento de uma doença conhecida por nanismo, esta pode ser caracterizada por uma falha na glândula hipofisária, uma disfunção hipotalâmica ou resistência do tecido-alvo à ação do GH.
              De acordo com as características de secreção do GH, o aumento da estatura e ganho de peso da criança acontece em surtos, e não de forma linear. Durante os primeiros dois anos de vida o crescimento se dá de forma rápida, e nessa idade a criança alcança aproximadamente 50% da altura que ela terá quando adulta (WILMORE e COSTILL, 1999). Depois dessa fase há uma diminuição na taxa de crescimento. Durante a infância, crianças do sexo feminino e masculino seguem esse mesmo padrão, inclusive com relação ao desenvolvimento das proporções corporais (STRAUSS, 1984). De aproximadamente 02 aos 12 anos a criança cresce menos de 35% de sua estatura final. Entre o 5º e o 7º ano de vida, o crescimento físico ocorre de tal forma que as antigas proporções (cabeça grande, tronco comprido e extremidades curtas) são substituídas por um desenvolvimento maior das extremidades se comparado ao tronco, assemelhando-se ao adulto (WEINECK, 2000). O mesmo padrão ocorre com a massa corporal; há um grande desenvolvimento na massa corporal nos primeiros anos de vida e outro grande aumento na puberdade. (WILMORE e COSTILL, 1999).
              A adolescência é a fase mais difícil de determinar de forma cronológica, pois seu início e término variam muito de indivíduo para indivíduo. Geralmente, o início da adolescência é definido como a puberdade, quando o organismo, como um todo, passa por modificações principalmente hormonais (WILMORE e COSTILL 1999). O final da adolescência (estágio III-IV de Tanner, com as epífises ainda não oclusas) é a fase em que há uma maior amplitude dos pulsos do hormônio do crescimento sérico e maior concentração média hormonal no sangue em 24h (µg por litro de sangue) se comparada com indivíduos adultos, pré-púberes, no início da adolescência, ou pós-púberes – nos quais já ocorreram todas as mudanças fisiológicas decorrentes da pubescência – ao passo que indivíduos pré-púberes apresentam um maior número de pulsos de GH em 24 horas (TOUITOU e HAUS, 1994).
            O crescimento em estatura e peso volta a se acentuar muito no início da puberdade, quando se atinge um ganho máximo em estatura que é conhecido como pico de velocidade de crescimento (PHV- peak height velocity). Esse pico ocorre aproximadamente 2 anos antes para o sexo feminino (MAFFULLI, et al. 2002; WILMORE e COSTILL, 1999). Acredita-se que haja também um pico de ganho de peso, que aconteça aproximadamente na mesma época que o pico de velocidade de crescimento em meninas e mais tarde em meninos (14 meses após), sendo que o ganho de peso das meninas é devido a um maior aumento do tecido adiposo e menor evolução do tecido muscular, e nos meninos o ganho de peso é promovido por um maior ganho em massa muscular e decréscimo do tecido adiposo (STRAUSS, 1984). Até a adolescência não há muita diferenciação no crescimento e na taxa de crescimento entre os sexos (WEINECK, 2000; DOCHERTY, 1996), contudo, as alterações hormonais decorrentes a partir dessa fase promovem uma diferenciação grande entre meninos e meninas. Na adolescência há o acréscimo dos cerca de 15% restante da estatura final do indivíduo (BLOOMFIELD, FRICKER e FITCH, 1995). Os indivíduos atingem 98% do seu crescimento final com 16,5 anos para o sexo feminino e 17,5 anos para o masculino (ROBERGS e ROBERTS, 1997).
              O crescimento promove mudanças no indivíduo desde sua concepção até a vida adulta, e é geralmente representado pelas medidas de estatura, peso corporal e proporções corporais.

Estatura - Durante o primeiro ano de vida, a velocidade de crescimento é maior, há um rápido aumento da estatura até os 3 anos de idade diminuindo na idade infantil de forma íngreme, alcançando valores relativamente estáveis aos 6 anos de idade, havendo um novo aumento (denominado estirão de crescimento), por volta dos 10-12 anos nas meninas e 13-14 anos nos meninos. Até o início da puberdade, o crescimento permanece estável para ambos os sexos, com aumento médio de 5 a 7 cm ao ano (ROGOL, CLARK e ROEMMICH, 2000), sendo os meninos até esta idade mais altos do que as meninas. Dos 10 aos 13 anos, as meninas atingem a puberdade, tornando-se mais altas nesse curto período. Quando os meninos atingirem a puberdade, entre os 13 e 14 anos, ultrapassarão as meninas em estatura.
As meninas param de crescer mais rapidamente, e o crescimento dos meninos é mais prolongado, representando uma diferença de cerca de 10 cm na idade adulta (WEINECK, 2000).

Massa Corporal - Durante a primeira infância ocorre um rápido ganho de peso que se estabiliza a partir da segunda infância. Até o início da puberdade, meninos e meninas têm um incremento de aproximadamente 2,5 kg ao ano (ROGOL, CLARK e ROEMMICH, 2000). Entretanto, as meninas, desde a fase pré-púbere, apresentam um maior percentual de gordura (BRUM, 2004) e atingem o peso maturacional por volta dos 15-16 anos, em contrapartida, os meninos ganham peso até os 20 anos de idade aproximadamente (ROGOL, CLARK e ROEMMICH, 2000).
A massa corpórea pode ser fracionada em: tecido muscular, adiposo, ósseo e residual. Com relação ao tecido muscular, este cresce apenas em hipertrofia, pouca ou nenhuma hiperplasia é notada. Meninos e meninas apresentam massa muscular e força muscular semelhantes na infância (MASCARENHAS, et al., 2003; GUEDES e GUEDES, 2000; WEINECK, 2000). Inclusive o diâmetro das fibras musculares de meninos e meninas é o mesmo (MALINA e BOUCHARD, 1991). Subseqüentemente, com a maturação biológica, os meninos adquirem maior massa muscular (VAN PRAAGH, 1998).
O crescimento do tecido adiposo dá-se por hipertrofia e hiperplasia. A deposição de gordura corporal subcutânea (tecido adiposo branco) acontece durante toda a infância. Acreditava-se que as células adiposas eram capazes de se multiplicar apenas durante o início da infância e que a deposição de gordura acontecia pelo preenchimento do volume dessas células preexistentes. Contudo, estudos recentes mostraram que, uma vez que o volume celular de gordura tenha sido atingido, novas células adiposas continuam se formando, ou seja, há tanto o aumento no tamanho celular quanto em seu número (WILMORE e COSTILL, 1999; KINNEY e TUCKER, 1997). Em crianças não-obesas o tamanho dos adipócitos não aumenta de modo significativo até o começo da puberdade, não havendo nenhuma diferença entre os sexos masculino e feminino.
O crescimento do tecido ósseo é mediado por fatores hormonais e locais que determinam o equilíbrio entre a deposição e absorção óssea pelos osteoblastos e osteoclastos, respectivamente. Em crianças, a velocidade da deposição óssea é maior do que sua absorção possibilitando o desenvolvimento das estruturas ósseas e resultando em ossos menos quebradiços devido à constante formação de nova matriz orgânica (GUYTON e HALL, 1997). Com a idade há uma perda progressiva do colágeno tornando o osso mais compacto (ANDERSON, HALL e MARTIN, 2000). Antes da puberdade não há diferença no desenvolvimento da massa óssea entre meninos e meninas, o que indica pouca significância do aspecto hormonal esteroidal nessa fase (GARRETT e KIRKENDALL, 2000; BLIMKIE e BAR-OR, 1995; SKINNER, 1993).

Proporção Ombro/Quadril - Antes da puberdade, as diferenças entre o ombro e o quadril são pequenas entre os sexos, possuindo os meninos, após a puberdade, ombros mais largos (ECKERT, 1993). A variação proporcional na relação ombro/quadril depois dos 6 anos de idade, é causada por um diferente padrão de crescimento entre os sexos. O aumento da largura dos ombros é o mesmo para meninos e meninas, enquanto há um aumento consistente na largura do quadril para as meninas, justificando sua constituição física de quadril mais largo que ombros.

Proporção Estatura Em Pé/Estatura Sentada (Tamanho Funcional das Pernas) - Até atingir a puberdade, os membros inferiores das crianças crescem mais rapidamente em relação ao comprimento do tronco. Assim, até os 12 anos a proporção estatura em pé/estatura sentada é menor, pois as pernas estão contribuindo na porcentagem da estatura em pé. Após os 6-7 anos, os meninos apresentam uma velocidade de crescimento maior do que as meninas, tendo como conseqüência o comprimento de pernas comparativamente maior, contribuindo para sua maior altura total (ECKERT, 1993).

Maturação Biológica: na perspectiva biológica, a maturação refere-se ao relógio regulador interno do indivíduo que é determinado quase na sua totalidade geneticamente e dificilmente influenciado por fatores externos. De acordo com Thomas, Lee e Thomas (1988), as características de maturação biológica aparecem em uma ordem fixa, entretanto há uma variação na velocidade em que elas aparecem. As diferenças individuais verificadas entre as crianças de uma mesma idade cronológica são claramente evidenciadas pelas diferenças na velocidade do processo de maturação biológica. Podemos considerar como exemplos de maturação biológica o processo de mielinização do sistema nervoso central, a maturação pubertária verificada através das mudanças nas características sexuais, entre outros exemplos. A maturação biológica ocorre de forma muito variada e individualizada, podemos tomar como exemplo três crianças com a mesma idade cronológica e estatura (1,30m). Aparentemente, elas se encontrariam no mesmo estágio de maturação, porém elas podem não estar no mesmo nível se levarmos em conta a estatura final. Na idade adulta (que corresponde ao 100% de estatura) elas certamente não terão a mesma altura, uma pode chegar a ter 1,80m, a segunda, 1,70m e a terceira, 1,60m. No exemplo, a criança que tem a mesma altura que as demais, e que no futuro será a mais baixa (1,60m) com relação às outras duas, está relativamente mais desenvolvida nessa determinada ocasião, pois atingiu um percentual maior de sua estatura adulta (ROWLAND, 1996). Portanto, a idade cronológica não deve ser considerada como um indicador real da maturação biológica na qual a criança se encontra. As variações de quaisquer aspectos fisiológicos são individuais e diferem de forma significativa de uma criança para outra. Na prática de atividade física e esportes a criança que estiver em um estado mais maduro que as demais vai se encontrar em vantagem (ROBERGS e ROBERTS, 1997).
            A maturação biológica pode ser dividida em dois componentes: a época em que as mudanças ocorrem (timing) e a taxa em que a maturação se processa (tempo). Exemplos do primeiro: a idade de menarca, a idade do estirão de crescimento, entre outros; exemplos do último: o quão rápido ou lento uma pessoa passa do estágio inicial de maturação sexual até o estágio maduro (MAFFULLI, et al., 2002).
          Os diferentes sistemas seguem um ritmo de maturação padrão, por exemplo, a maturação do sistema nervoso acontece de forma muito mais drástica no começo da infância e se desacelera durante o decorrer dessa fase. Já com a maturação sexual ocorre o oposto; durante a primeira infância são notadas poucas mudanças, vindo ocorrer próximo à puberdade os primeiros sinais significativos de maturação sexual. Dessa forma, o mesmo padrão é observado para todas as crianças, porém podem variar em termos de idade cronológica e magnitude.
Muitas vezes, uma variável fisiológica afeta outras, por estarem diretamente relacionadas. Por exemplo, o consumo máximo de oxigênio (VO2máx) é influenciado pela função pulmonar, cardíaca, volume sangüíneo, conteúdo de hemoglobina, distribuição dos vasos, capacidade aeróbia, função muscular, entre outras. Todas essas variáveis apresentam um padrão de desenvolvimento diferenciado, o que dificulta a determinação do nível maturacional da criança (ROWLAND, 1996). Contudo, podemos identificar alguns fatores que ajudam-nos a reconhecer em que fase a criança se encontra; são eles: maturação morfológica, maturação esquelética e maturação sexual. A dentição também é uma técnica que pode ser utilizada, porém não é muito comum (DOCHERTY, 1996). Nas pessoas com desenvolvimento normal, a idade cronológica e biológica coincide (WEINECK, 2000).

Maturação morfológica - O tamanho corporal, peso (massa corporal) e estatura, são indicativos de fácil observação para se identificar o nível de maturação biológica de uma criança. A curva de crescimento é um dos modelos utilizados nessa tentativa, pois tem um padrão que não varia muito durante a infância, apesar de existirem consideráveis diferenças entre crianças da mesma idade, tanto em relação à época em que as mudanças morfológicas ocorrem, quanto nos próprios valores de massa corporal e estatura.
A fase em que a criança mais se desenvolve é na primeira infância, na qual o peso de nascimento pode ser triplicado ao se atingir um ano de idade. Durante o decorrer da infância, a criança tem uma desaceleração da velocidade de crescimento inicial, e passa a ter um ganho de peso e em estatura estável ano a ano. Outro pico de crescimento acontece no início da adolescência, entre 10 e 12 anos para meninas e até dois anos mais tarde em meninos (ROWLAND, 1996).
           
Maturação esquelética - O crescimento esquelético é o melhor indicador da maturação biológica das crianças e pode ser utilizado desde o nascimento até a fase adulta (MAFFULLI, et al. 2002; DOCHERTY, 1996). As extremidades ósseas crescem progressivamente durante a infância através do processo de proliferação das células cartilaginosas da epífise dos ossos. O padrão adulto é alcançado quando essa multiplicação cessa e os ossos tornam-se completamente oclusos e incapazes de crescer longitudinalmente. Utilizando a técnica dos raios X, podemos determinar a idade óssea de uma criança através da análise dos ossos de suas mãos, entre outras técnicas. Segundo MALINA e BOUCHARD (1991), esses estudos radiográficos focalizam basicamente três aspectos: a espessura total, a espessura da medula ou cavidade medular e a espessura do córtex ou osso compacto. A maturação esquelética tem sido considerada a melhor forma de se determinar a maturação biológica, por estar ligada diretamente ao desenvolvimento morfológico e sexual (ROWLAND, 1996).
             
Maturação sexual – Outro indicador que nos ajuda a identificar em que estágio a criança se encontra é a maturação sexual. O acompanhamento das características sexuais secundárias é um método prático e fácil de estimar a maturação biológica da criança (DOCHERTY, 1996). A maturação sexual acontece através da secreção hormonal pelo hipotálamo, hipófise e gônadas, o que induz a criança a passar por mudanças anatômicas e fisiológicas que resultarão no indivíduo adulto capaz de se reproduzir.
            A padronização das fases do desenvolvimento das características sexuais é feita em cinco estágios, que são clássicos para a determinação da maturação sexual, e são propostos por Tanner. O estágio 1 representa indivíduos pré-púberes, os estágios 2, 3 e 4 indivíduos púberes e o quinto estágio representa adultos. É observado o desenvolvimento das mamas em meninas; o desenvolvimento das genitálias em meninos e dos pêlos pubianos em ambos (TANNER[1] citado por GUEDES e GUEDES, 2000). Através da análise clínica ou da auto-avaliação pode-se determinar em que estágio maturacional encontram-se os indivíduos.
O método de auto-avaliação consiste na identificação das características sexuais secundárias pelo próprio indivíduo que compara seu desenvolvimento atual com figuras ou fotos que indicam as fases da maturação sexual. A validade do método da auto-avaliação é muito contestada, entretanto o método é não-invasivo e causa menor constrangimento aos sujeitos, pois na avaliação clínica o médico realiza observação direta das características sexuais. A idade da menarca e volume mamário para meninas; o desenvolvimento dos pêlos axilares e o volume testicular são outras formas de avaliar a maturação sexual dos meninos.
As características secundárias sexuais podem se desenvolver num período de até quatro anos, respeitando as diferenças individuais de cada pessoa (ROWLAND, 1996). A partir do momento em que todas as características sexuais secundárias estão desenvolvidas, a criança passa a ser considerada adolescente. A adolescência varia dos 13 aos 20 anos aproximadamente. Antes do início de quaisquer alterações fisiológicas induzidas pela puberdade as crianças são denominadas pré-púberes.

Crescimento, maturação e Atividade física - O papel da atividade física para o crescimento e desenvolvimento normal da criança é essencial. Apesar de a atividade física estimular a secreção do hormônio do crescimento (DOUGLAS, 1999) existe uma controvérsia muito grande com relação ao impacto que a atividade física pode proporcionar ao crescimento em estatura da criança. Cientes dos vários fatores que devem ser levados em consideração quando estudamos a aquisição de estatura, percebemos que é difícil atribuir o real impacto da atividade física sobre o crescimento.
            Com relação a um possível efeito positivo sobre o crescimento, a maioria dos autores concorda que a atividade física não promove quaisquer alterações que venham a estimular o osso a crescer longitudinalmente além do potencial genético (NUNES et al., 2004; SCHNIRRING, 2001; GUEDES e GUEDES, 2000; WILMORE e COSTILL, 1999; ROWLAND, 1996; MALINA e BOUCHARD, 1991). Porém, acredita-se que a pressão mecânica que o exercício proporciona serve como um fator de estimulação do desenvolvimento ósseo no sentido de promover uma maior deposição de minerais, aumentando a densidade e o diâmetro ósseo (POWERS e HOWLEY, 2001; ROBERGS e ROBERTS, 1997; BLIMKIE e BAR-OR, 1995). Isso ocorre porque o exercício promove um estresse mecânico que estimula a osteogênese e também produz um aumento do fluxo sangüíneo para esse tecido (DOUGLAS, 1999). O exercício físico é tão importante nesse sentido que crianças que apresentam um déficit alimentar na ingestão de cálcio e vitamina D podem ter um desenvolvimento esquelético normal quando participando de atividades físicas regulares conferindo a atividade física papel de extrema relevância (ANDERSON, 2000). Logo, exercícios adequados, ou seja, “submáximos e que exijam de forma múltipla e não unilateral o complexo do aparelho locomotor passivo” (ossos, cartilagem, tendões e ligamentos) oferecem estímulo apropriado para a melhora da estrutura óssea (WEINECK, 2000).
Com relação a um possível impacto negativo da atividade física sobre o crescimento temos duas vertentes entre os pesquisadores. Aqueles que acreditam que o treinamento físico não influencia negativamente o crescimento atribuindo a baixa estatura da criança a seu genótipo e a fatores ambientais (MAFFULLI, et al. 2002; BAXTER-JONES e MAFFULLI, 2002; SCHNIRRING, 2001; GEORGOPOULOS, et al., 1999; CHEUNG e RICHMOND, 1995) e aqueles que sustentam evidências sobre um possível efeito adverso do treinamento físico em excesso sobre o crescimento (WEIMANN, 2002; BASS, DALY e CAINE, 2002; WEINECK, 2000; ROGOL, CLARK e ROEMMICH, 2000; WILMORE e COSTILL, 1999; BLIMKIE e BAR-OR, 1995; ROWLAND, 1990). Esses últimos afirmam que o exercício físico pode vir a lesionar a região da placa epifisária que promove o crescimento e, se praticado de forma excessiva, pode alterar a maturação sexual.
A prática de atividades que utilizam cargas elevadas pode promover tais traumas, pois apesar dos ossos das crianças serem mais flexíveis devido a uma maior quantidade de material orgânico mole (colágeno), são menos resistentes à pressão e tração, assim como os tendões e ligamentos também o são (ANDERSON, HALL e MARTIN, 2000). Dessa forma, as crianças são mais susceptíveis a lesões do que os adultos. Fraturas e traumas nos discos epifisários, região mais vulnerável do osso em crescimento, podem ocorrer devido à prática de esportes ou ao treinamento excessivo de um movimento. As fraturas podem promover uma interrupção no crescimento do osso, uma vez que o fluxo sangüíneo para a região lesada pode ser interrompido e prejudicar o crescimento ósseo, o que pode resultar inclusive em membros diferentes em comprimento (WILMORE e COSTILL, 1999; ROWLAND, 1990). Na fase de crescimento pubertal os riscos de sobrecarga ortopédica são ainda maiores (WEINECK, 2000). Cerca de 15% de todas as fraturas ósseas em crianças envolvidas com a iniciação esportiva competitiva são nos discos epifisários. Essas fraturas são caracterizadas por uma separação completa do disco epifisário, acarretando deformações articulares e alterações no comprimento do osso (WEINECK, 2000). As crianças também são mais susceptíveis a lesões por “overuse” - a repetição de um mesmo movimento por dias, semanas, anos.
Muito se tem pesquisado sobre a influência da atividade física intensa sobre o crescimento e maturação sexual de crianças. Os efeitos negativos do treinamento vigoroso sobre o sistema endócrino, em crianças do sexo feminino, são: atraso da menarca, ciclo menstrual irregular e amenorréia.
Contudo, acredita-se que tais sinais não tenham um efeito deletério durante o crescimento ou que possam influenciar negativamente a capacidade reprodutiva da mulher adulta. Entretanto, o atraso da menarca não deve ultrapassar os 13 a 14 anos, e episódios de amenorréia não devem ser superiores a 5 anos, ou devem ser regularizados até os 18 anos de idade. As características sexuais secundárias em meninas devem se desenvolver até os 14 anos (ROWLAND, 1990), caso contrário deve-se fazer um diagnóstico para investigar possíveis problemas.
            A influência do exercício no sistema endócrino depende do tipo, da freqüência e da intensidade do exercício. Exercícios de endurance apresentam uma maior probabilidade de incidirem em amenorréia, contudo treinamentos de longa distância que não superem aproximadamente 16 a 21 Km por semana não apresentam grande risco de desenvolvimento de tais quadros (SCHNIRRING, 2001). As explicações para ciclos irregulares, amenorréia e atraso da menarca são semelhantes em praticantes de esportes competitivos: baixo percentual de gordura, estresse físico e mental e esgotamento físico (ROWLAND, 1990). O tipo do exercício é determinante na seleção dos atletas. Esportes competitivos como vôlei, basquete, tênis, entre outros apresentam a média da estatura dos jovens igual ou superior a mediana da população que não pratica atividades esportivas sistematizadas, por outro lado em esportes como as ginásticas, a média das atletas é inferior à mediana dos não-atletas, inclusive estando as ginastas com estaturas inferiores às das participantes dessas modalidades há 20 anos (BAXTER-JONES e MAFFULLI, 2002).
Em indivíduos do sexo masculino, um quadro oposto pode ser constatado, crianças que participam de atividade esportivas intensas têm o início da puberdade antecipado, o que acaba favorecendo a participação em muitos esportes (ROWLAND, 1990).
Em estudo realizado por Georgopoulos, et al. (1999) em 255 atletas de ginástica rítmica desportiva (GRD) entre 11 e 23 anos, a idade da menarca foi significativamente atrasada em relação a idade da menarca de suas respectivas mães e irmãs, sendo  que apenas 23% delas reportaram ter tido menarca e das meninas que não apresentaram a menarca 20% tinha idade superior a 15 anos.
Outros pesquisadores creditam tais alterações no crescimento e maturação biológica ao processo de seleção natural, ou seja, determinadas características são exigidas como critério de seleção do próprio esporte no qual as crianças detentoras de tais qualidades procuram ou permanecem mais tempo em uma modalidade esportiva em função dessas atribuições física. Crianças que maturam tardiamente têm vantagens sobre as demais, principalmente em atividades ginásticas e tais autores preferem não atribuir à atividade física um possível efeito influenciador sobre a maturação sexual de crianças tanto do sexo masculino quanto do feminino, pois consideram que o desenvolvimento pubertal se presta de forma multifatorial, incluindo elementos como: restrição calórica, hábitos noturnos, distúrbios hormonais, estresse psicológico, lesões, tamanho do atleta antes de iniciar os treinamentos, fatores sócioeconômicos, entre outros (MAFFULLI, et al. 2002; BAXTER-JONES e MAFFULLI, 2002; GEORGOPOULOS, et al., 1999; CHEUNG e RICHMOND, 1995).
            Um estudo realizado com 184 crianças que participavam de variados esportes (natação, tênis, handebol e ginásticas, inclusive a ginástica artística), não demonstrou nenhuma correlação entre tempo gasto em treinamento e o crescimento (SCHNIRRING, 2001). Acredita-se que fatores como a genética, o tamanho da criança antes de iniciar o programa de treinamento, o nível maturacional da criança e o estágio pubertal estejam relacionados ao subseqüente desenvolvimento da estatura e do índice de massa corporal (IMC). Concluiu-se nesse estudo que as crianças que realizavam exercícios moderados (menos de 10 horas semanais) parecem estar expostas a um risco reduzido de atenuar seu crescimento e maturação, e que as ginastas do sexo feminino são menores que meninas que participam de qualquer outro esporte, inclusive desde o início da atividade, sugerindo que a escolha da criança pode ser afetada pela sua própria composição corporal, e que essa escolha, bem como a seleção de diversas modalidades acontece de acordo com diferentes fatores, inclusive o socioeconômico e genético, ginastas com estatura abaixo da média e menarca atrasada têm mães com baixa estatura e que tiveram a menarca no final da idade cronológica que caracteriza a adolescência (MAFFULLI et al., 2002; SCHNIRRING, 2001).
É sabido, entretanto, que as crianças que participam de esportes competitivos, por um motivo desconhecido, estagnam seu crescimento durante a fase de treinamento competitivo havendo a subseqüente recuperação de sua altura padrão, comparada com a estatura de outras crianças, quando há uma redução ou uma parada nos treinamentos (BASS, DALY e CAINE, 2002; SCHNIRRING, 2001; ROGOL, CLARK e ROEMMICH, 2000). Os programas de ginástica ministrados para atletas infantis de elite são os mais criticados, pois envolvem intensa carga, várias horas por semana, e têm sido considerados danosos ao crescimento somático da criança (BLIMKIE e BAR-OR, 1995). A ginástica artística parece ser o esporte mais crítico nesse sentido, pois exige de seus atletas muita força física e seus treinamentos são famosos por requererem a repetição exacerbada de movimentos. No entanto, segundo Weineck (2000), modalidades esportivas que requerem altos desempenhos na infância, quaisquer que sejam, estão sujeitas a prejudicar o processo de crescimento pelo fato de ocorrer, a princípio, uma predominância do gasto energético com o metabolismo funcional das células e tecidos à custa do metabolismo estrutural (responsável pelo crescimento, proliferação e diferenciação de novas células), ou seja, o processo de crescimento exige um adequado consumo energético para um particular regime de treinamento. Além disso, cargas unilaterais, máximas ou despreparadas podem acarretar de forma imediata ou, em longo prazo, lesões e/ou distúrbios dos tecidos e influenciar negativamente o crescimento somático e maturacional da criança.
Uma das hipóteses para o crescimento físico estagnar durante cargas de treinamento intensas é que tal quadro impede o desenvolvimento da massa gorda apropriada para a idade. A falta de reserva adiposa leva a um baixo nível de leptina. Os níveis de leptina alterados não permitem que o eixo hipotálamo-hipófise-gônadas seja ativado e induza um atraso no crescimento e no pico de velocidade de crescimento, podendo ocorrer sérios problemas em casos extremos. Baixos níveis de leptina podem ser agravados por dietas inadequadas. Os níveis de leptina podem ser o elo de ligação entre a baixa quantidade de gordura, muitas vezes causada por hábitos alimentares restritivos e apresentada por atletas altamente treinados (WEIMANN, 2002).
O problema prático que nos resta resolver é qual a quantidade de exercício que estimularia ou retardaria o crescimento ósseo longitudinal. Sugere-se o limite de 15 a 18 horas semanais para evitar problemas de crescimento (SCHNIRRING, 2001). A esse respeito ainda, acredita-se que existe um risco maior da redução do crescimento na fase da puberdade e próxima a ela quando há excesso no treinamento físico, pois além do aumento das necessidades energéticas associadas ao crescimento acelerado do corpo nessa fase, deve persistir uma quantidade razoável direcionada aos treinamentos físicos, bem como uma possível tendência de restrição na dieta, principalmente em esportes nos quais se faz necessária uma massa de gordura reduzida (SCHNIRRING, 2001; ROGOL, CLARK e ROEMMICH, 2000).
Em conclusão, a influência do treinamento sistematizado sobre o crescimento é difícil de ser determinada, pois os estudos não acompanham o desenvolvimento da criança por tempo suficiente e/ou os fatores ambientais não podem ser rigorosamente controlados, daí conseguir discernir o que é relativo à atividade física e ao processamento do crescimento normal não é conclusivo (BAXTER-JONES e MAFFULLI, 2002).
Apesar da atividade física não influenciar o crescimento em estatura além do seu potencial genético, o exercício programado afeta outros componentes da composição corporal, contribui para a redução de gordura, aumento da massa muscular, principalmente em meninos, e aumento da densidade óssea especialmente em atividades com sobrecarga – futebol, ginásticas, corridas - trazendo muitos benefícios (MAFFULLI, et al., 2002). Esses benefícios foram relatados inclusive em ginastas pré-púberes do sexo feminino participantes de treinamento sistematizado, que apresentaram maior massa magra e menor percentual de gordura quando comparadas ao grupo controle da mesma faixa etária (FILAIRE e LAC, 2002).

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

              Maturação biológica, crescimento físico e desenvolvimento são processos distintos pelos quais a criança tem de passar até atingir a idade adulta e que são erroneamente considerados como uma coisa só. A idade cronológica, muitas vezes, não coincide com a idade biológica da criança não devendo ser utilizada como único parâmetro para avaliar as crianças. As curvas de crescimento são muito utilizadas para o acompanhamento do crescimento, já a maturação biológica pode ser estimada de diversas maneiras sendo a maturação sexual, avaliada através das características sexuais secundárias, considerada a forma mais simples. A condição sócio-econômica, o nível de atividade física, a saúde, a genética, a composição corporal e principalmente, a condição nutricional, entre outros fatores, são capazes de intervir sobre os processos de crescimento e maturação biológica.

              O crescimento determina uma série de alterações morfológicas e fisiológicas que influencia a prática de atividade física e esportes, crianças que se encontram em um estágio maturacional mais avançado obtêm performances esportivas superiores às de seus colegas da mesma faixa etária e inferior maturação. Crianças que participam de atividades físicas regulares asseguram um crescimento físico normal, entretanto, a atividade física promove o crescimento longitudinal dentro do potencial genético, podendo aperfeiçoar o ganho de densidade óssea e melhoras na composição corporal.

              Devido às crianças serem mais susceptíveis a lesões ósseas que adultos, seu treinamento não deve superar 15-18 horas semanais seja qual for a modalidade praticada e não deve dar ênfase a trabalhos unilaterais principalmente de força. Atentarmos para essas particularidades é de suma importância para o desenvolvimento de um trabalho específico para as crianças. A observação dos estágios de crescimento físico, maturação biológica e desenvolvimento das crianças nos dão base de como o trabalho de iniciação esportiva deve ser delineado para atingir melhor o grupo com o qual estamos trabalhando. Lembrando, entretanto, que para considerarmos um grupo homogêneo devemos respeitar tais processos, o que nos leva conclusão que a probabilidade de termos grupos heterogêneos é sempre maior.

A influência da atividade física competitiva sobre o crescimento é difícil de determinar devido a um número restrito de pesquisas longitudinais e/ou estudos com controle sobre as variáveis intervenientes. Entretanto, a literatura mais recente aponta o processo de seleção natural como principal a principal explicação para o crescimento longitudinal inferior e maturação sexual tardia dos atletas de determinadas modalidades. O impacto positivo do treinamento é consenso entre os autores que verificaram melhoras na composição corporal geral, aumento da massa muscular e densidade óssea.
Pesquisas posteriores se fazem necessárias para atribuir o real impacto da atividade física sobre o crescimento físico, maturação biológica e desenvolvimento a fim de elucidarmos o real papel da atividade esportiva e discernirmos o que é determinado pelo crescimento normal em si.


REFERÊNCIAS



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[1] TANNER, J. M.  Growth at adolescence.  2. ed.  Blackwell Scientific Publications : Oxford, 1962.

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sábado, 25 de julho de 2020

Voltando a compartilhar conhecimento!

Olá, tudo bem?
Estou retornando com o projeto do blog com mais informações, cursos, livros e material de apoio para os profissionais da área esportiva, alunos de licenciatura em Educação Física e professores.
Depois de algum tempo parado devido a problemas de saúde, volto a escrever sobre futebol e futsal, Educação Física Escolar e atividade física para o rendimento esportivo, para a saúde e com fins de recuperação física e principalmente, saúde.

Vamos em frente?
Sempre!!!

Criança no Esporte

Este artigo é muito interessante, leiam!  CAMPOS, Wagner; BRUM, Vilma Pinheiro. Criança no Esporte . Midiograph: Londrina. 2004.   CAPÍT...