Vamos ler um pouco?
Artigo interessantíssimo.
Boa leitura.
Maturação biológica, crescimento físico e
desenvolvimento são processos distintos pelos quais a criança tem de passar até
atingir a idade adulta e que são erroneamente considerados como uma coisa só. A
idade cronológica, muitas vezes, não coincide com a idade biológica da criança
não devendo ser utilizada como único parâmetro para avaliar as crianças. As
curvas de crescimento são muito utilizadas para o acompanhamento do
crescimento, já a maturação biológica pode ser estimada de diversas maneiras
sendo a maturação sexual, avaliada através das características sexuais
secundárias, considerada a forma mais simples. A condição sócio-econômica, o
nível de atividade física, a saúde, a genética, a composição corporal e
principalmente, a condição nutricional, entre outros fatores, são capazes de
intervir sobre os processos de crescimento e maturação biológica.
O crescimento determina uma série de alterações
morfológicas e fisiológicas que influencia a prática de atividade física e
esportes, crianças que se encontram em um estágio maturacional mais avançado
obtêm performances esportivas superiores às de seus colegas da mesma faixa
etária e inferior maturação. Crianças que participam de atividades físicas
regulares asseguram um crescimento físico normal, entretanto, a atividade
física promove o crescimento longitudinal dentro do potencial genético, podendo
aperfeiçoar o ganho de densidade óssea e melhoras na composição corporal.
Devido às crianças serem mais susceptíveis a lesões
ósseas que adultos, seu treinamento não deve superar 15-18 horas semanais seja
qual for a modalidade praticada e não deve dar ênfase a trabalhos unilaterais
principalmente de força. Atentarmos para essas particularidades é de suma
importância para o desenvolvimento de um trabalho específico para as crianças.
A observação dos estágios de crescimento físico, maturação biológica e
desenvolvimento das crianças nos dão base de como o trabalho de iniciação
esportiva deve ser delineado para atingir melhor o grupo com o qual estamos
trabalhando. Lembrando, entretanto, que para considerarmos um grupo homogêneo
devemos respeitar tais processos, o que nos leva conclusão que a probabilidade
de termos grupos heterogêneos é sempre maior.
REFERÊNCIAS
Artigo interessantíssimo.
Boa leitura.
CAMPOS, Wagner; BRUM, Vilma Pinheiro. Criança no Esporte. Midiograph:
Londrina. 2004.
CRESCIMENTO FÍSICO, MATURAÇÃO BIOLÓGICA e DESENVOLVIMENTO MOTOR
Existem
inúmeras diferenças físicas entre adultos e crianças. Essas são muito mais
complexas do que apenas a estatura e a massa corporal, as crianças apresentam
divergentes características quantitativas e qualitativas obtidas através dos
processos de crescimento, desenvolvimento e maturação biológica que culminam no
indivíduo maduro. Apesar de poderem ocorrer concomitantemente, é importante
salientar a definição e a diferença desses processos, que normalmente são
empregados de forma indiscriminada.
O
crescimento corresponde a alterações físicas no tamanho do corpo como um todo e
em suas partes resultantes de hipertrofia, hiperplasia e/ou agregação celular,
ou seja, divisão celular e conseqüentemente aumento de massa corpórea,
correspondendo às alterações físicas nas dimensões corporais. O desenvolvimento
é caracterizado por um fenômeno mais amplo cujas modificações funcionais podem
contemplar aspectos tanto quantitativos quanto qualitativos, uma vez que é a
forma pela qual o organismo ou parte desse evolui se diferencia e se especializa
inclusive em termos comportamentais (conforme discutido no capítulo 1). Esse
processo fundamenta-se no ganho de capacidade, caracterizando-se pela seqüência
de modificações evolutivas nas funções do organismo. Já o processo de maturação
é caracterizado por um conjunto de mudanças fisiológicas que ocorrem de forma ordenada
a fim de se atingir o padrão maduro do organismo, ou seja, um padrão no qual a
criança irá culminar em um indivíduo adulto (MAFFULLI, et al., 2002; GARRETT e
KIRKENDALL, 2000; GUEDES e GUEDES, 2000; ROWLAND, 1996; MALINA e BOUCHARD,
1991).
Dessa forma,
esses processos de crescimento, desenvolvimento e maturação biológica ocorrem
simultaneamente, porém são distintos e se verificam em intensidades diferentes
conforme as variações individuais e a etapa da vida em que a pessoa se
encontra, tendo cada um o seu ritmo (GUEDES e GUEDES, 2000; SCAMMON apud TANI
et al., 1988).
Nesse capítulo
iremos enfatizar os processos de crescimento físico e maturação biológica,
discutindo as diferenças geradas em função do sexo, bem como abordando as
implicações no desenvolvimento motor e na prática esportiva da criança.
Crescimento:
uma das formas mais utilizadas para acompanhar o crescimento físico,
principalmente na primeira infância, é a curva de crescimento. A estatura e a
massa corpórea das crianças são mensuradas em um intervalo curto de tempo e a
curva gerada por essas variáveis serve como parâmetro comparativo com a média
populacional.
As curvas de crescimento também
podem ser geradas baseadas nos diversos sistemas (massa muscular, força,
tamanho dos pulmões, coração, etc.). O crescimento sofre influência tanto
relacionada à genética, quanto aos fatores extrínsecos do ambiente. São estes:
sexo (masculino ou feminino), nível de atividade física, composição corporal,
nutrição, nível sócioeconômico, influência cultural, doenças e, além disso,
também podemos citar as diferenças étnicas, clima, estações do ano e
localização geográfica. Dentre os fatores citados anteriormente, os mais
preponderantes são o estado nutricional apropriado e o exercício físico,
capazes de aperfeiçoar o potencial genético de crescimento biológico. Uma dieta
inadequada ou deficiência em algum componente da dieta pode afetar de forma
significativa o desenvolvimento normal da criança. A desnutrição é a causa mais
comum, entretanto uma restrição alimentar severa induzida pelo próprio
indivíduo, prática mais comum entre classes mais abastadas, pode retardar o
crescimento e atrasar o desenvolvimento pubertal (ROGOL, CLARK e ROEMMICH,
2000). Em decorrência da complexa interação entre os fatores citados acima
podemos encontrar crianças com crescimento mais (ou menos) acentuado do que
outras.
A hereditariedade é um fator que
afeta as taxas de crescimento e desenvolvimento, precipitando ou retardando a
maturação fisiológica. Isto porque o tipo genético condiciona uma maior
intensidade e/ou velocidade da multiplicação celular; determina o grau de
sensibilidade dos órgãos efetores aos estímulos indutores do crescimento;
determina a época de fechamento das cartilagens de crescimento e condiciona o
aparecimento de doenças familiares capazes de prejudicar o crescimento
(MARCONDES, 1978). As informações genéticas herdadas de pais e mães têm
influência tanto no tamanho corporal quanto nas características físicas.
Estudos feitos com gêmeos idênticos e fraternos levaram os pesquisadores a
sugerir que a contribuição genética para a estatura da criança é de
aproximadamente 60%, sendo de 60% também para comprimento e diâmetro ósseo
(ROWLAND, 1996). Para massa óssea o valor calculado da contribuição genética é
de 60% a 80% (ANDERSON, 2000). Com relação a massa corporal, a herança genética
é menor, sendo calculada em apenas 40% (ROWLAND, 1996).
Além da herança genética e de
fatores ambientais, a quantidade de hormônios circulante desempenha papel
relevante no crescimento físico da criança. Os três grupos de hormônios que
mais participam no processo de crescimento e do organismo são os hormônios
tireoidianos (tiroxina ou T4 e triiodotironina ou T3), os hormônios gonadais e
o hormônio do crescimento (GUEDES e GUEDES, 2000).
Os
hormônios tireodianos (T3 e T4) têm participação no crescimento longitudinal
agindo sinergisticamente com o hormônio do crescimento. Entretanto, o T4 e o T3
influenciam principalmente o crescimento de alguns órgãos como o cérebro e o
fígado. Esses hormônios também estão relacionados com a diferenciação dos
tecidos no primeiro ano de vida. Todas as células do corpo têm em seu núcleo
receptores para o T3 e T4; em alguns tecidos a ação hormonal do T3 e T4 é
indireta, como por exemplo, a estimulação da produção de fatores de
crescimento, que seriam os verdadeiros estimuladores do crescimento tecidual. A
deficiência dos hormônios tireoidianos é conhecida como cretinismo,
caracterizada por graves falhas no crescimento, no esqueleto, nos dentes e
também no desenvolvimento mental (DOUGLAS, 1999).
Os
hormônios gonadais estão relacionados à maturação sexual, crescimento
longitudinal e composição corporal principalmente na adolescência (GUEDES e
GUEDES, 2000). Eles são responsáveis pelas mudanças típicas na distribuição da
gordura corporal (central comparada com periférica, subcutânea comparada com
visceral e localizada na extremidade superior comparada com inferior do corpo)
(ROGOL, CLARK e ROEMMICH, 2000).
O
hormônio do crescimento (GH) ou somatotrofina é um hormônio secretado pela
hipófise anterior, cuja função principal é a de atuar no metabolismo
intermediário de lipídeos, carboidratos e proteínas, promovendo o crescimento
linear, aumentando a espessura dos ossos, atuando na cartilagem epifisária, no
crescimento dos tecidos e órgãos em geral, e induzindo hipertrofia e
hiperplasia celular (DOUGLAS, 1999). A liberação desse hormônio acontece em
episódios pulsáteis principalmente à noite durante os estágios 3 e 4 do sono
(ondas curtas) (TOUITOU e HAUS, 1994), e sua secreção é controlada pelos
hormônios hipotalâmicos GHRH ou hormônio liberador de GH e hormônio inibidor da
liberação de GH (GHRHI), também denominado somatostatina ou SS. Além disso, a
secreção de GH é regulada por hormônios tireodianos, glicocorticóides,
esteróides sexuais, neurotransmissores, neuropeptídeos, fator de crescimento
(IGR-I), o próprio GH através da retroalimentação de alça curta, e através de
substratos metabólicos, tais como glicose, ácido graxos, dentre outros
(DOUGLAS, 1999). A deficiência do GH causa o desenvolvimento de uma doença
conhecida por nanismo, esta pode ser caracterizada por uma falha na glândula
hipofisária, uma disfunção hipotalâmica ou resistência do tecido-alvo à ação do
GH.
De
acordo com as características de secreção do GH, o aumento da estatura e ganho
de peso da criança acontece em surtos, e não de forma linear. Durante os
primeiros dois anos de vida o crescimento se dá de forma rápida, e nessa idade
a criança alcança aproximadamente 50% da altura que ela terá quando adulta
(WILMORE e COSTILL, 1999). Depois dessa fase há uma diminuição na taxa de
crescimento. Durante a infância, crianças do sexo feminino e masculino seguem
esse mesmo padrão, inclusive com relação ao desenvolvimento das proporções
corporais (STRAUSS, 1984). De aproximadamente 02 aos 12 anos a criança cresce
menos de 35% de sua estatura final. Entre o 5º e o 7º ano de vida, o
crescimento físico ocorre de tal forma que as antigas proporções (cabeça
grande, tronco comprido e extremidades curtas) são substituídas por um
desenvolvimento maior das extremidades se comparado ao tronco, assemelhando-se
ao adulto (WEINECK, 2000). O mesmo padrão ocorre com a massa corporal; há um
grande desenvolvimento na massa corporal nos primeiros anos de vida e outro grande
aumento na puberdade. (WILMORE e COSTILL,
1999).
A
adolescência é a fase mais difícil de determinar de forma cronológica, pois seu
início e término variam muito de indivíduo para indivíduo. Geralmente, o início
da adolescência é definido como a puberdade, quando o organismo, como um todo,
passa por modificações principalmente hormonais (WILMORE e COSTILL 1999). O
final da adolescência (estágio III-IV de Tanner, com as epífises ainda não
oclusas) é a fase em que há uma maior amplitude dos pulsos do hormônio do
crescimento sérico e maior concentração média hormonal no sangue em 24h (µg por
litro de sangue) se comparada com indivíduos adultos, pré-púberes, no início da
adolescência, ou pós-púberes – nos quais já ocorreram todas as mudanças
fisiológicas decorrentes da pubescência – ao passo que indivíduos pré-púberes
apresentam um maior número de pulsos de GH em 24 horas (TOUITOU e HAUS, 1994).
O
crescimento em estatura e peso volta a se acentuar muito no início da
puberdade, quando se atinge um ganho máximo em estatura que é conhecido como
pico de velocidade de crescimento (PHV- peak
height velocity). Esse pico ocorre aproximadamente 2 anos antes para o sexo
feminino (MAFFULLI, et al. 2002; WILMORE e COSTILL, 1999). Acredita-se que haja
também um pico de ganho de peso, que aconteça aproximadamente na mesma época
que o pico de velocidade de crescimento em meninas e mais tarde em meninos (14
meses após), sendo que o ganho de peso das meninas é devido a um maior aumento
do tecido adiposo e menor evolução do tecido muscular, e nos meninos o ganho de
peso é promovido por um maior ganho em massa muscular e decréscimo do tecido
adiposo (STRAUSS, 1984). Até a adolescência não há muita diferenciação no
crescimento e na taxa de crescimento entre os sexos (WEINECK, 2000; DOCHERTY,
1996), contudo, as alterações hormonais decorrentes a partir dessa fase
promovem uma diferenciação grande entre meninos e meninas. Na adolescência há o
acréscimo dos cerca de 15% restante da estatura final do indivíduo (BLOOMFIELD,
FRICKER e FITCH, 1995). Os indivíduos atingem 98% do seu crescimento final com
16,5 anos para o sexo feminino e 17,5 anos para o masculino (ROBERGS e ROBERTS,
1997).
O crescimento promove mudanças no
indivíduo desde sua concepção até a vida adulta, e é geralmente representado
pelas medidas de estatura, peso corporal e proporções corporais.
Estatura - Durante o
primeiro ano de vida, a velocidade de
crescimento é maior, há um rápido aumento da estatura até os 3 anos de
idade diminuindo na idade infantil de forma íngreme, alcançando valores
relativamente estáveis aos 6 anos de idade, havendo um novo aumento (denominado
estirão de crescimento), por volta dos 10-12 anos nas meninas e 13-14 anos nos
meninos. Até o início da puberdade, o crescimento permanece estável para ambos
os sexos, com aumento médio de 5 a 7 cm ao ano (ROGOL, CLARK e ROEMMICH, 2000),
sendo os meninos até esta idade mais altos do que as meninas. Dos 10 aos 13
anos, as meninas atingem a puberdade, tornando-se mais altas nesse curto
período. Quando os meninos atingirem a puberdade, entre os 13 e 14 anos,
ultrapassarão as meninas em estatura.
As
meninas param de crescer mais rapidamente, e o crescimento dos meninos é mais
prolongado, representando uma diferença de cerca de 10 cm na idade adulta
(WEINECK, 2000).
Massa Corporal - Durante a
primeira infância ocorre um rápido ganho de peso que se estabiliza a partir da
segunda infância. Até o início da puberdade, meninos e meninas têm um
incremento de aproximadamente 2,5 kg ao ano (ROGOL, CLARK e ROEMMICH, 2000).
Entretanto, as meninas, desde a fase pré-púbere, apresentam um maior percentual
de gordura (BRUM, 2004) e atingem o peso maturacional por volta dos 15-16 anos,
em contrapartida, os meninos ganham peso até os 20 anos de idade
aproximadamente (ROGOL, CLARK e ROEMMICH, 2000).
A massa
corpórea pode ser fracionada em: tecido muscular, adiposo, ósseo e residual.
Com relação ao tecido muscular, este cresce apenas em hipertrofia, pouca ou
nenhuma hiperplasia é notada. Meninos e meninas apresentam massa muscular e
força muscular semelhantes na infância (MASCARENHAS, et al., 2003; GUEDES e
GUEDES, 2000; WEINECK, 2000). Inclusive o diâmetro das fibras musculares de
meninos e meninas é o mesmo (MALINA e BOUCHARD, 1991). Subseqüentemente, com a
maturação biológica, os meninos adquirem maior massa muscular (VAN PRAAGH,
1998).
O crescimento
do tecido adiposo dá-se por hipertrofia e hiperplasia. A deposição de gordura
corporal subcutânea (tecido adiposo branco) acontece durante toda a infância.
Acreditava-se que as células adiposas eram capazes de se multiplicar apenas
durante o início da infância e que a deposição de gordura acontecia pelo
preenchimento do volume dessas células preexistentes. Contudo, estudos recentes
mostraram que, uma vez que o volume celular de gordura tenha sido atingido,
novas células adiposas continuam se formando, ou seja, há tanto o aumento no
tamanho celular quanto em seu número (WILMORE e COSTILL, 1999; KINNEY e TUCKER,
1997). Em crianças não-obesas o tamanho dos adipócitos não aumenta de modo
significativo até o começo da puberdade, não havendo nenhuma diferença entre os
sexos masculino e feminino.
O crescimento
do tecido ósseo é mediado por fatores hormonais e locais que determinam o
equilíbrio entre a deposição e absorção óssea pelos osteoblastos e
osteoclastos, respectivamente. Em crianças, a velocidade da deposição óssea é
maior do que sua absorção possibilitando o desenvolvimento das estruturas
ósseas e resultando em ossos menos quebradiços devido à constante formação de
nova matriz orgânica (GUYTON e HALL, 1997). Com a idade há uma perda
progressiva do colágeno tornando o osso mais compacto (ANDERSON, HALL e MARTIN,
2000). Antes da puberdade não há diferença no desenvolvimento da massa óssea
entre meninos e meninas, o que indica pouca significância do aspecto hormonal
esteroidal nessa fase (GARRETT e KIRKENDALL, 2000; BLIMKIE e BAR-OR, 1995;
SKINNER, 1993).
Proporção
Ombro/Quadril
- Antes da puberdade, as diferenças entre o ombro e o quadril são pequenas
entre os sexos, possuindo os meninos, após a puberdade, ombros mais largos
(ECKERT, 1993). A variação proporcional na relação ombro/quadril depois dos 6
anos de idade, é causada por um diferente padrão de crescimento entre os sexos.
O aumento da largura dos ombros é o mesmo para meninos e meninas, enquanto há
um aumento consistente na largura do quadril para as meninas, justificando sua
constituição física de quadril mais largo que ombros.
Proporção Estatura
Em Pé/Estatura Sentada (Tamanho Funcional das Pernas) - Até atingir a puberdade,
os membros inferiores das crianças crescem mais rapidamente em relação ao
comprimento do tronco. Assim, até os 12 anos a proporção estatura em
pé/estatura sentada é menor, pois as pernas estão contribuindo na porcentagem
da estatura em pé. Após os 6-7 anos, os meninos apresentam uma velocidade de
crescimento maior do que as meninas, tendo como conseqüência o comprimento de
pernas comparativamente maior, contribuindo para sua maior altura total
(ECKERT, 1993).
Maturação Biológica: na
perspectiva biológica, a maturação refere-se ao relógio regulador interno do
indivíduo que é determinado quase na sua totalidade geneticamente e
dificilmente influenciado por fatores externos. De acordo com Thomas, Lee e
Thomas (1988), as características de maturação biológica aparecem em uma ordem
fixa, entretanto há uma variação na velocidade em que elas aparecem. As
diferenças individuais verificadas entre as crianças de uma mesma idade
cronológica são claramente evidenciadas pelas diferenças na velocidade do
processo de maturação biológica. Podemos considerar como exemplos de maturação
biológica o processo de mielinização do sistema nervoso central, a maturação
pubertária verificada através das mudanças nas características sexuais, entre
outros exemplos. A maturação biológica ocorre de forma muito variada e
individualizada, podemos tomar como exemplo três crianças com a mesma idade
cronológica e estatura (1,30m). Aparentemente, elas se encontrariam no mesmo
estágio de maturação, porém elas podem não estar no mesmo nível se levarmos em
conta a estatura final. Na idade adulta (que corresponde ao 100% de estatura)
elas certamente não terão a mesma altura, uma pode chegar a ter 1,80m, a
segunda, 1,70m e a terceira, 1,60m. No exemplo, a criança que tem a mesma
altura que as demais, e que no futuro será a mais baixa (1,60m) com relação às
outras duas, está relativamente mais desenvolvida nessa determinada ocasião,
pois atingiu um percentual maior de sua estatura adulta (ROWLAND, 1996).
Portanto, a idade cronológica não deve ser considerada como um indicador real
da maturação biológica na qual a criança se encontra. As variações de quaisquer
aspectos fisiológicos são individuais e diferem de forma significativa de uma
criança para outra. Na prática de atividade física e esportes a criança que
estiver em um estado mais maduro que as demais vai se encontrar em vantagem
(ROBERGS e ROBERTS, 1997).
A
maturação biológica pode ser dividida em dois componentes: a época em que as
mudanças ocorrem (timing) e a taxa em
que a maturação se processa (tempo).
Exemplos do primeiro: a idade de menarca, a idade do estirão de crescimento,
entre outros; exemplos do último: o quão rápido ou lento uma pessoa passa do
estágio inicial de maturação sexual até o estágio maduro (MAFFULLI, et al.,
2002).
Os diferentes sistemas seguem um
ritmo de maturação padrão, por exemplo, a maturação do sistema nervoso acontece
de forma muito mais drástica no começo da infância e se desacelera durante o
decorrer dessa fase. Já com a maturação sexual ocorre o oposto; durante a
primeira infância são notadas poucas mudanças, vindo ocorrer próximo à
puberdade os primeiros sinais significativos de maturação sexual. Dessa forma,
o mesmo padrão é observado para todas as crianças, porém podem variar em termos
de idade cronológica e magnitude.
Muitas
vezes, uma variável fisiológica afeta outras, por estarem diretamente
relacionadas. Por exemplo, o consumo máximo de oxigênio (VO2máx) é
influenciado pela função pulmonar, cardíaca, volume sangüíneo, conteúdo de
hemoglobina, distribuição dos vasos, capacidade aeróbia, função muscular, entre
outras. Todas essas variáveis apresentam um padrão de desenvolvimento
diferenciado, o que dificulta a determinação do nível maturacional da criança
(ROWLAND, 1996). Contudo, podemos identificar alguns fatores que ajudam-nos a
reconhecer em que fase a criança se encontra; são eles: maturação morfológica,
maturação esquelética e maturação sexual. A dentição também é uma técnica que
pode ser utilizada, porém não é muito comum (DOCHERTY, 1996). Nas pessoas com
desenvolvimento normal, a idade cronológica e biológica coincide (WEINECK,
2000).
Maturação
morfológica
- O tamanho corporal, peso (massa corporal) e estatura, são indicativos de
fácil observação para se identificar o nível de maturação biológica de uma
criança. A curva de crescimento é um dos modelos utilizados nessa tentativa,
pois tem um padrão que não varia muito durante a infância, apesar de existirem
consideráveis diferenças entre crianças da mesma idade, tanto em relação à
época em que as mudanças morfológicas ocorrem, quanto nos próprios valores de
massa corporal e estatura.
A fase
em que a criança mais se desenvolve é na primeira infância, na qual o peso de
nascimento pode ser triplicado ao se atingir um ano de idade. Durante o
decorrer da infância, a criança tem uma desaceleração da velocidade de
crescimento inicial, e passa a ter um ganho de peso e em estatura estável ano a
ano. Outro pico de crescimento acontece no início da adolescência, entre 10 e
12 anos para meninas e até dois anos mais tarde em meninos (ROWLAND, 1996).
Maturação
esquelética
- O crescimento esquelético é o melhor indicador da maturação biológica das
crianças e pode ser utilizado desde o nascimento até a fase adulta (MAFFULLI,
et al. 2002; DOCHERTY, 1996). As extremidades ósseas crescem progressivamente
durante a infância através do processo de proliferação das células
cartilaginosas da epífise dos ossos. O padrão adulto é alcançado quando essa
multiplicação cessa e os ossos tornam-se completamente oclusos e incapazes de
crescer longitudinalmente. Utilizando a técnica dos raios X, podemos determinar
a idade óssea de uma criança através da análise dos ossos de suas mãos, entre
outras técnicas. Segundo MALINA e BOUCHARD (1991), esses estudos radiográficos
focalizam basicamente três aspectos: a espessura total, a espessura da medula
ou cavidade medular e a espessura do córtex ou osso compacto. A maturação
esquelética tem sido considerada a melhor forma de se determinar a maturação
biológica, por estar ligada diretamente ao desenvolvimento morfológico e sexual
(ROWLAND, 1996).
Maturação sexual – Outro indicador que nos ajuda a
identificar em que estágio a criança se encontra é a maturação sexual. O
acompanhamento das características sexuais secundárias é um método prático e
fácil de estimar a maturação biológica da criança (DOCHERTY, 1996). A maturação
sexual acontece através da secreção hormonal pelo hipotálamo, hipófise e
gônadas, o que induz a criança a passar por mudanças anatômicas e fisiológicas
que resultarão no indivíduo adulto capaz de se reproduzir.
A
padronização das fases do desenvolvimento das características sexuais é feita
em cinco estágios, que são clássicos para a determinação da maturação sexual, e
são propostos por Tanner. O estágio 1 representa indivíduos pré-púberes, os
estágios 2, 3 e 4 indivíduos púberes e o quinto estágio representa adultos. É
observado o desenvolvimento das mamas em meninas; o desenvolvimento das
genitálias em meninos e dos pêlos pubianos em ambos (TANNER[1]
citado por GUEDES e GUEDES, 2000). Através da análise clínica ou da
auto-avaliação pode-se determinar em que estágio maturacional encontram-se os
indivíduos.
O
método de auto-avaliação consiste na identificação das características sexuais
secundárias pelo próprio indivíduo que compara seu desenvolvimento atual com
figuras ou fotos que indicam as fases da maturação sexual. A validade do método
da auto-avaliação é muito contestada, entretanto o método é não-invasivo e
causa menor constrangimento aos sujeitos, pois na avaliação clínica o médico
realiza observação direta das características sexuais. A idade da menarca e
volume mamário para meninas; o desenvolvimento dos pêlos axilares e o volume
testicular são outras formas de avaliar a maturação sexual dos meninos.
As características secundárias sexuais podem se desenvolver
num período de até quatro anos, respeitando as diferenças individuais de cada
pessoa (ROWLAND, 1996). A partir do momento em que todas as características
sexuais secundárias estão desenvolvidas, a criança passa a ser considerada
adolescente. A adolescência varia dos 13 aos 20 anos aproximadamente. Antes do
início de quaisquer alterações fisiológicas induzidas pela puberdade as
crianças são denominadas pré-púberes.
Crescimento, maturação e Atividade física - O papel da
atividade física para o crescimento e desenvolvimento normal da criança é
essencial. Apesar de a atividade física estimular a secreção do hormônio do
crescimento (DOUGLAS, 1999) existe uma controvérsia muito grande com relação ao
impacto que a atividade física pode proporcionar ao crescimento em estatura da
criança. Cientes dos vários fatores que devem ser levados em consideração
quando estudamos a aquisição de estatura, percebemos que é difícil atribuir o
real impacto da atividade física sobre o crescimento.
Com relação a um possível efeito
positivo sobre o crescimento, a maioria dos autores concorda que a atividade
física não promove quaisquer alterações que venham a estimular o osso a crescer
longitudinalmente além do potencial genético (NUNES et al., 2004; SCHNIRRING,
2001; GUEDES e GUEDES,
2000; WILMORE e COSTILL, 1999; ROWLAND, 1996; MALINA e BOUCHARD, 1991). Porém,
acredita-se que a pressão mecânica que o exercício proporciona serve como um
fator de estimulação do desenvolvimento ósseo no sentido de promover uma maior
deposição de minerais, aumentando a densidade e o diâmetro ósseo (POWERS e
HOWLEY, 2001; ROBERGS e ROBERTS, 1997; BLIMKIE e BAR-OR, 1995). Isso ocorre
porque o exercício promove um estresse mecânico que estimula a osteogênese e também
produz um aumento do fluxo sangüíneo para esse tecido (DOUGLAS, 1999). O
exercício físico é tão importante nesse sentido que crianças que apresentam um
déficit alimentar na ingestão de cálcio e vitamina D podem ter um
desenvolvimento esquelético normal quando participando de atividades físicas
regulares conferindo a atividade física papel de extrema relevância (ANDERSON,
2000). Logo, exercícios adequados, ou seja, “submáximos e que exijam de forma
múltipla e não unilateral o complexo do aparelho locomotor passivo” (ossos,
cartilagem, tendões e ligamentos) oferecem estímulo apropriado para a melhora
da estrutura óssea (WEINECK, 2000).
Com
relação a um possível impacto negativo da atividade física sobre o crescimento
temos duas vertentes entre os pesquisadores. Aqueles que acreditam que o
treinamento físico não influencia negativamente o crescimento atribuindo a
baixa estatura da criança a seu genótipo e a fatores ambientais (MAFFULLI, et
al. 2002; BAXTER-JONES e MAFFULLI, 2002; SCHNIRRING, 2001; GEORGOPOULOS, et
al., 1999; CHEUNG e RICHMOND, 1995) e aqueles que sustentam evidências sobre um
possível efeito adverso do treinamento físico em excesso sobre o crescimento (WEIMANN, 2002; BASS, DALY e CAINE,
2002; WEINECK, 2000; ROGOL, CLARK e ROEMMICH, 2000; WILMORE e COSTILL, 1999;
BLIMKIE e BAR-OR, 1995; ROWLAND, 1990). Esses últimos afirmam que o exercício
físico pode vir a lesionar a região da placa epifisária que promove o
crescimento e, se praticado de forma excessiva, pode alterar a maturação
sexual.
A prática de
atividades que utilizam cargas elevadas pode promover tais traumas, pois apesar
dos ossos das crianças serem mais flexíveis devido a uma maior quantidade de
material orgânico mole (colágeno), são menos resistentes à pressão e tração,
assim como os tendões e ligamentos também o são (ANDERSON, HALL e MARTIN,
2000). Dessa forma, as crianças são mais susceptíveis a lesões do que os
adultos. Fraturas e traumas nos discos epifisários, região mais vulnerável do
osso em crescimento, podem ocorrer devido à prática de esportes ou ao
treinamento excessivo de um movimento. As fraturas podem promover uma
interrupção no crescimento do osso, uma vez que o fluxo sangüíneo para a região
lesada pode ser interrompido e prejudicar o crescimento ósseo, o que pode resultar
inclusive em membros diferentes em comprimento (WILMORE e COSTILL, 1999;
ROWLAND, 1990). Na fase de crescimento pubertal os riscos de sobrecarga
ortopédica são ainda maiores (WEINECK, 2000). Cerca de 15% de todas as fraturas
ósseas em crianças envolvidas com a iniciação esportiva competitiva são nos
discos epifisários. Essas fraturas são caracterizadas por uma separação
completa do disco epifisário, acarretando deformações articulares e alterações
no comprimento do osso (WEINECK, 2000). As crianças também são mais
susceptíveis a lesões por “overuse” - a
repetição de um mesmo movimento por dias, semanas, anos.
Muito se
tem pesquisado sobre a influência da atividade física intensa sobre o
crescimento e maturação sexual de crianças. Os efeitos negativos do treinamento
vigoroso sobre o sistema endócrino, em crianças do sexo feminino, são: atraso
da menarca, ciclo menstrual irregular e amenorréia.
Contudo,
acredita-se que tais sinais não tenham um efeito deletério durante o
crescimento ou que possam influenciar negativamente a capacidade reprodutiva da
mulher adulta. Entretanto, o atraso da menarca não deve ultrapassar os 13 a 14
anos, e episódios de amenorréia não devem ser superiores a 5 anos, ou devem ser
regularizados até os 18 anos de idade. As características sexuais secundárias
em meninas devem se desenvolver até os 14 anos (ROWLAND, 1990), caso contrário
deve-se fazer um diagnóstico para investigar possíveis problemas.
A influência do exercício no sistema
endócrino depende do tipo, da freqüência e da intensidade do exercício.
Exercícios de endurance apresentam
uma maior probabilidade de incidirem em amenorréia, contudo treinamentos de
longa distância que não superem aproximadamente 16 a 21 Km por semana não
apresentam grande risco de desenvolvimento de tais quadros (SCHNIRRING, 2001).
As explicações para ciclos irregulares, amenorréia e atraso da menarca são
semelhantes em praticantes de esportes competitivos: baixo percentual de
gordura, estresse físico e mental e esgotamento físico (ROWLAND, 1990). O tipo
do exercício é determinante na seleção dos atletas. Esportes competitivos como
vôlei, basquete, tênis, entre outros apresentam a média da estatura dos jovens
igual ou superior a mediana da população que não pratica atividades esportivas
sistematizadas, por outro lado em esportes como as ginásticas, a média das
atletas é inferior à mediana dos não-atletas, inclusive estando as ginastas com
estaturas inferiores às das participantes dessas modalidades há 20 anos
(BAXTER-JONES e MAFFULLI, 2002).
Em
indivíduos do sexo masculino, um quadro oposto pode ser constatado, crianças
que participam de atividade esportivas intensas têm o início da puberdade
antecipado, o que acaba favorecendo a participação em muitos esportes (ROWLAND,
1990).
Em estudo realizado
por Georgopoulos, et al. (1999) em 255 atletas de ginástica rítmica desportiva
(GRD) entre 11 e 23 anos, a idade da menarca foi significativamente atrasada em
relação a idade da menarca de suas respectivas mães e irmãs, sendo que apenas 23% delas reportaram ter tido
menarca e das meninas que não apresentaram a menarca 20% tinha idade superior a
15 anos.
Outros pesquisadores
creditam tais alterações no crescimento e maturação biológica ao processo de
seleção natural, ou seja, determinadas características são exigidas como
critério de seleção do próprio esporte no qual as crianças detentoras de tais
qualidades procuram ou permanecem mais tempo em uma modalidade esportiva em
função dessas atribuições física. Crianças que maturam tardiamente têm
vantagens sobre as demais, principalmente em atividades ginásticas e tais
autores preferem não atribuir à atividade física um possível efeito
influenciador sobre a maturação sexual de crianças tanto do sexo masculino
quanto do feminino, pois consideram que o desenvolvimento pubertal se presta de
forma multifatorial, incluindo elementos como: restrição calórica, hábitos
noturnos, distúrbios hormonais, estresse psicológico, lesões, tamanho do atleta
antes de iniciar os treinamentos, fatores sócioeconômicos, entre outros (MAFFULLI,
et al. 2002; BAXTER-JONES e MAFFULLI, 2002; GEORGOPOULOS, et al., 1999; CHEUNG
e RICHMOND, 1995).
Um estudo realizado com 184 crianças
que participavam de variados esportes (natação, tênis, handebol e ginásticas,
inclusive a ginástica artística), não demonstrou nenhuma correlação entre tempo
gasto em treinamento e o crescimento (SCHNIRRING, 2001). Acredita-se que
fatores como a genética, o tamanho da criança antes de iniciar o programa de
treinamento, o nível maturacional da criança e o estágio pubertal estejam
relacionados ao subseqüente desenvolvimento da estatura e do índice de massa
corporal (IMC). Concluiu-se nesse estudo que as crianças que realizavam
exercícios moderados (menos de 10 horas semanais) parecem estar expostas a um
risco reduzido de atenuar seu crescimento e maturação, e que as ginastas do
sexo feminino são menores que meninas que participam de qualquer outro esporte,
inclusive desde o início da atividade, sugerindo que a escolha da criança pode
ser afetada pela sua própria composição corporal, e que essa escolha, bem como
a seleção de diversas modalidades acontece de acordo com diferentes fatores,
inclusive o socioeconômico e genético, ginastas com estatura abaixo da média e
menarca atrasada têm mães com baixa estatura e que tiveram a menarca no final
da idade cronológica que caracteriza a adolescência (MAFFULLI et al., 2002;
SCHNIRRING, 2001).
É sabido,
entretanto, que as crianças que participam de esportes competitivos, por um
motivo desconhecido, estagnam seu crescimento durante a fase de treinamento
competitivo havendo a subseqüente recuperação de sua altura padrão, comparada
com a estatura de outras crianças, quando há uma redução ou uma parada nos
treinamentos (BASS, DALY e CAINE, 2002; SCHNIRRING, 2001; ROGOL, CLARK e
ROEMMICH, 2000). Os programas de ginástica ministrados para atletas infantis de
elite são os mais criticados, pois envolvem intensa carga, várias horas por
semana, e têm sido considerados danosos ao crescimento somático da criança
(BLIMKIE e BAR-OR, 1995). A ginástica artística parece ser o esporte mais
crítico nesse sentido, pois exige de seus atletas muita força física e seus
treinamentos são famosos por requererem a repetição exacerbada de movimentos.
No entanto, segundo Weineck (2000), modalidades esportivas que requerem altos
desempenhos na infância, quaisquer que sejam, estão sujeitas a prejudicar o
processo de crescimento pelo fato de ocorrer, a princípio, uma predominância do gasto energético com o metabolismo funcional das
células e tecidos à custa do metabolismo estrutural (responsável pelo
crescimento, proliferação e diferenciação de novas células), ou seja, o
processo de crescimento exige um adequado consumo energético para um particular
regime de treinamento. Além disso, cargas unilaterais, máximas ou despreparadas
podem acarretar de forma imediata ou, em longo prazo, lesões e/ou distúrbios
dos tecidos e influenciar negativamente o crescimento somático e maturacional
da criança.
Uma das hipóteses
para o crescimento físico estagnar durante cargas de treinamento intensas é que
tal quadro impede o desenvolvimento da massa gorda apropriada para a idade. A
falta de reserva adiposa leva a um baixo nível de leptina. Os níveis de leptina
alterados não permitem que o eixo hipotálamo-hipófise-gônadas seja ativado e induza
um atraso no crescimento e no pico de velocidade de crescimento, podendo
ocorrer sérios problemas em casos extremos. Baixos níveis de leptina podem ser
agravados por dietas inadequadas. Os níveis de leptina podem ser o elo de
ligação entre a baixa quantidade de gordura, muitas vezes causada por hábitos
alimentares restritivos e apresentada por atletas altamente treinados (WEIMANN,
2002).
O problema prático
que nos resta resolver é qual a quantidade de exercício que estimularia ou
retardaria o crescimento ósseo longitudinal. Sugere-se o limite de 15 a 18
horas semanais para evitar problemas de crescimento (SCHNIRRING, 2001). A esse
respeito ainda, acredita-se que existe um risco maior da redução do crescimento
na fase da puberdade e próxima a ela quando há excesso no treinamento físico,
pois além do aumento das necessidades energéticas associadas ao crescimento
acelerado do corpo nessa fase, deve persistir uma quantidade razoável
direcionada aos treinamentos físicos, bem como uma possível tendência de restrição
na dieta, principalmente em esportes nos quais se faz necessária uma massa de
gordura reduzida (SCHNIRRING, 2001; ROGOL, CLARK e ROEMMICH, 2000).
Em conclusão, a
influência do treinamento sistematizado sobre o crescimento é difícil de ser
determinada, pois os estudos não acompanham o desenvolvimento da criança por
tempo suficiente e/ou os fatores ambientais não podem ser rigorosamente
controlados, daí conseguir discernir o que é relativo à atividade física e ao
processamento do crescimento normal não é conclusivo (BAXTER-JONES e MAFFULLI,
2002).
Apesar da
atividade física não influenciar o crescimento em estatura além do seu
potencial genético, o exercício programado afeta outros componentes da
composição corporal, contribui para a redução de gordura, aumento da massa
muscular, principalmente em meninos, e aumento da densidade óssea especialmente
em atividades com sobrecarga – futebol, ginásticas, corridas - trazendo muitos
benefícios (MAFFULLI, et al., 2002). Esses benefícios foram relatados inclusive
em ginastas pré-púberes do sexo feminino participantes de treinamento
sistematizado, que apresentaram maior massa magra e menor percentual de gordura
quando comparadas ao grupo controle da mesma faixa etária (FILAIRE e LAC,
2002).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Maturação biológica, crescimento físico e
desenvolvimento são processos distintos pelos quais a criança tem de passar até
atingir a idade adulta e que são erroneamente considerados como uma coisa só. A
idade cronológica, muitas vezes, não coincide com a idade biológica da criança
não devendo ser utilizada como único parâmetro para avaliar as crianças. As
curvas de crescimento são muito utilizadas para o acompanhamento do
crescimento, já a maturação biológica pode ser estimada de diversas maneiras
sendo a maturação sexual, avaliada através das características sexuais
secundárias, considerada a forma mais simples. A condição sócio-econômica, o
nível de atividade física, a saúde, a genética, a composição corporal e
principalmente, a condição nutricional, entre outros fatores, são capazes de
intervir sobre os processos de crescimento e maturação biológica.
O crescimento determina uma série de alterações
morfológicas e fisiológicas que influencia a prática de atividade física e
esportes, crianças que se encontram em um estágio maturacional mais avançado
obtêm performances esportivas superiores às de seus colegas da mesma faixa
etária e inferior maturação. Crianças que participam de atividades físicas
regulares asseguram um crescimento físico normal, entretanto, a atividade
física promove o crescimento longitudinal dentro do potencial genético, podendo
aperfeiçoar o ganho de densidade óssea e melhoras na composição corporal.
Devido às crianças serem mais susceptíveis a lesões
ósseas que adultos, seu treinamento não deve superar 15-18 horas semanais seja
qual for a modalidade praticada e não deve dar ênfase a trabalhos unilaterais
principalmente de força. Atentarmos para essas particularidades é de suma
importância para o desenvolvimento de um trabalho específico para as crianças.
A observação dos estágios de crescimento físico, maturação biológica e
desenvolvimento das crianças nos dão base de como o trabalho de iniciação
esportiva deve ser delineado para atingir melhor o grupo com o qual estamos
trabalhando. Lembrando, entretanto, que para considerarmos um grupo homogêneo
devemos respeitar tais processos, o que nos leva conclusão que a probabilidade
de termos grupos heterogêneos é sempre maior.
A influência da atividade física
competitiva sobre o crescimento é difícil de determinar devido a um número
restrito de pesquisas longitudinais e/ou estudos com controle sobre as
variáveis intervenientes. Entretanto, a literatura mais recente aponta o
processo de seleção natural como principal a principal explicação para o crescimento
longitudinal inferior e maturação sexual tardia dos atletas de determinadas
modalidades. O impacto positivo do treinamento é consenso entre os autores que
verificaram melhoras na composição corporal geral, aumento da massa muscular e
densidade óssea.
Pesquisas posteriores se fazem
necessárias para atribuir o real impacto da atividade física sobre o
crescimento físico, maturação biológica e desenvolvimento a fim de elucidarmos
o real papel da atividade esportiva e discernirmos o que é determinado pelo
crescimento normal em si.
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