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SIGNIFICADO, DETECÇÃO E CORREÇÃO DO ERRO DE PERFORMANCE NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM DE HABILIDADES MOTORAS Go Tani Universidade de São Paulo 1.
Introdução
Dentro da seqüência de procedimentos no processo ensino-aprendizagem, o professor, após
preparar o plano de instrução, transmite aos alunos as informações nele contidas de uma
forma sequencial e ordenada. Em se tratando de aprendizagem de habilidades motoras, estas
informações se relacionam basicamente com o objetivo da tarefa, a especificação da tarefa (o
que fazer) e o modo de execução da tarefa (como fazer). Através da transmissão destas
informações, o professor procura esclarecer, aos alunos, o padrão de movimento que eles
devem alcançar ao final da prática.
Os alunos, por sua vez, recebem as informações, as processam e executam o movimento
levando em consideração o objetivo e as demandas do meio ambiente. O movimento
executado é então observado e avaliado pelo professor que utiliza as informações obtidas
(feedback) para auxiliá-los nas próximas tentativas. Estabelece-se, desta forma, a dinâmica de
ensino-aprendizagem e este processo é repetido até que o objetivo seja alcançado.
Logicamente, o processo ensino-aprendizagem é um sistema tão complexo que se torna difícil
expressá-lo em poucas palavras. Porém, sem discutir, no momento, as diferentes
interpretações do conceito de ensino e de aprendizagem que fogem ao escopo deste trabalho,
pode-se considerar o processo acima descrito como sendo um modelo simplificado do
processo ensino-aprendizagem de habilidades motoras (Tani, 1978).
No processo ensino-aprendizagem de habilidades motoras, quando o professor transmite aos
alunos o objetivo a ser alcançado, um importante aspecto deve ser considerado. É que ao fazêlo, ele enfatiza o resultado final ou o padrão de movimento a ser alcançado pelos alunos,
enquanto que os mesmos têm pela frente todo um processo de aprendizagem ou aquisição de
habilidades motoras. Este é o principal motivo pelo qual surge, inevitavelmente, no início do
processo ensino-aprendizagem, uma diferença significativa entre a performance desejada pelo
professor e a performance demonstrada pelos alunos. É desnecessário esclarecer que o
objetivo do processo ensino-aprendizagem é diminuir esta diferença até zero, ou seja, a
eliminação gradativa do erro de performance e a conseqüente aquisição da habilidade.
Em toda e qualquer aprendizagem, a meta final é o estabelecimento de respostas corretas.
Todavia, se performances erradas são inerentes ao processo de aprendizagem motora,
principalmente nas suas fases iniciais, torna-se de fundamental importância uma consideração
mais profunda sobre o significado, a detecção e a correção destes erros. O objetivo deste
trabalho é justamente abordar conceitualmente estes aspectos.
2. Erro de performance na aprendizagem motora
De certa forma, todo o ser humano, ao nascer, torna-se um iniciante para todas as coisas.
Posteriormente, com a aprendizagem e experiência, adquire habilidades específicas tornandose proficiente com relação a determinadas tarefas. Entretanto, com relação a outras tarefas
continua a ser um iniciante. O fato de o ser humano continuar a ser um iniciante significa que
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existem, para ele, objetivos ainda mais atraentes e desafiadores que não podem ser alcançados
com as habilidades adquiridas até então. Neste sentido, todos os indivíduos, diante de uma
tarefa nova são, de certa forma, iniciantes. Segundo a teoria de processamento de informações
do ser humano, isto significa que o indivíduo é limitado na sua capacidade de processar
informações relacionadas com esta tarefa, originando-se assim erros de performance.
Aprendizagem motora, em poucas palavras, seria o processo pelo qual estes erros são
gradativamente eliminados até se chegar às respostas corretas, precisas e consistentes.
Para uma melhor compreensão da aprendizagem motora como um processo de eliminação
gradativa dos erros de performance, vejamos o que acontece com o indivíduo que está para
adquirir uma habilidade motora. Primeiro, o objetivo da performance é estabelecido. O
objetivo é normalmente a solução de um problema motor. Este problema motor surge
normalmente no meio ambiente externo (Bernstein, 1967). Definido o objetivo, o indivíduo
procura a melhor maneira de se alcançar este objetivo. Para tanto, necessita processar
informações do meio ambiente externo e do próprio corpo (proprioceptivas), selecionar um
plano motor que atenda apropriadamente às demandas do momento e executar o movimento.
Durante a execução do movimento, recebe informações principalmente cinestésicas sobre
como o movimento está sendo executado e após a execução recebe informações, basicamente
visuais, sobre o resultado do movimento, ou seja, se o movimento executado alcançou ou não
o objetivo desejado. Denomina-se estas informações de feedback.
Os órgãos dos sentidos podem ser considerados como mecanismos intermediários entre a
estimulação do meio ambiente e o sistema de processamento central. Eles têm como função
ÓRGÃOS
DOS
SENTIDOS
MECANISMO
PERCEPTIVO
MECANISMO
DE
DECISÃO
MECANISMO
EFETOR
SISTEMA
INFORMAÇÃO MUSCULAR
FEEDBACK INTRÍNSECO
FEEDBACK INTRÍNSECO
FEEDBACK EXTERNO
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transformar os diferentes estímulos, em forma de energias físicas, em algo que possa ser
transmitido através do sistema nervoso humano, ou seja, impulsos nervosos. Este mecanismo,
que não é influenciado pelo processo de aprendizagem, tem também a função de codificar as
informações contidas no estímulo em forma de variações nos padrões espaço-temporais dos
impulsos nervosos. Os impulsos nervosos são então transmitidos, através de vias aferentes,
até o sistema nervoso central onde são processados. Inicia-se aí o processo de percepção.
O mecanismo de percepção, através dos processos de discriminação, identificação e
classificação, fornece informações detalhadas sobre o meio ambiente externo e interno
(próprio corpo) para serem utilizadas pelo mecanismo de decisão. Estas informações são
também enviadas ao sistema de memória para serem armazenadas e utilizadas na predição de
situações futuras. Percepção é basicamente um processo de organização de informações e este
processo depende de ações e experiências passadas (Welford, 1968). Ela se desenvolve
através do processo de aprendizagem e pode ser influenciada por fatores como atenção
seletiva, capacidade sensorial de detecção, memória e processos perceptivos de alto nível
como antecipação e predição.
As informações processadas pelo mecanismo perceptivo são então transmitidas ao mecanismo
de decisão. É função do mecanismo de decisão escolher o plano motor adequado levando-se
em consideração as demandas correntes do meio ambiente e os objetivos originais da
performance. O conceito de plano motor foi derivado do conceito de plano apresentado por
Miller, Galanter & Pribram (1960) que significa o processo organizacional que controla a
ordem em que uma sequência de operações é executada. Plano motor, também denominado
programa executivo (Fitts & Posner, 1967) pode ser considerado como a idéia total da
habilidade (Marteniuk, 1976) ou a compreensão da tarefa e o que ela exige (Gagné, 1977).
Com relação ao mecanismo de decisão é também importante considerar que um mesmo
objetivo pode ser alcançado via diferentes planos motores, visto que não existe uma relação
direta entre o objetivo e o movimento a ser executado para alcançá-lo (Connolly, 1977;
Newell, 1978).
Após a escolha do plano motor, o mesmo necessita ser detalhado com relação aos seus
componentes. Isto é feito pelo mecanismo efetor que tem como função selecionar e integrar os
comandos motores que eventualmente produzirão o movimento desejado. Dois processos
básicos se desenvolvem no mecanismo efetor: a organização hierárquica e seqüencial
(Marteniuk, 1976). A organização hierárquica envolve uma ordenação das informações do
geral para o específico, e a organização seqüencial a colocação numa ordem seqüencial os
componentes do plano motor para que as demandas do meio ambiente e os objetivos sejam
alcançados. O mecanismo efetor é também responsável pela iniciação do movimento já que
após o detalhamento do plano motor, comandos motores são transmitidos ao sistema muscular
num padrão espaço-temporal adequado onde então acontece o movimento. Neste momento, os
músculos estão sob controle dos comandos motores e após um intervalo de tempo estão
também sujeitos à influência e controle de feedback.
Normalmente, as primeiras tentativas de execução resultam em erros de performance. Os
alunos tomam ciência dos erros cometidos através do processamento das informações
feedback, e com base neste processamento tomam decisão sobre que mudanças introduzir no
seu próximo movimento para que o objetivo seja alcançado. Em outras palavras, o mecanismo
de detecção e correção do erro é acionado. Como conseqüência, um novo plano é elaborado,
executado e avaliado. A obtenção do objetivo ou a solução do problema motor é conseguida
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através de muita repetição de movimentos em que todos os mecanismos acima mencionados
são envolvidos.
Oportuno aqui destacar que o modelo de Marteniuk é um modelo essencialmente de
performance, ou seja, ele nada nos diz sobre como o indivíduo aprende com o tempo. Esta
limitação ilustra claramente a diferença entre aprendizagem e performance. Aprendizagem
pode ser definida como uma mudança interna no indivíduo que é inferida a partir de um
melhoramento relativamente permanente na performance que resulta da prática (Magill,
1980). O termo performance, por sua vez, tem sido freqüentemente usado com dois
significados distintos embora relacionados. O primeiro no sentido de execução do movimento
(como neste trabalho) e o segundo no sentido de rendimento (resultado). Performance pode
ser considerado, portanto, como sendo simplesmente o comportamento observável (Magill,
1980) implicando, por conseguinte, numa ação efetora e também como nível corrente em que
um indivíduo executa uma habilidade (Marteniuk, 1976). Se a aprendizagem implica, por
definição, numa mudança relativamente permanente de performance, isto significa que
performances (execuções de movimento) necessitam ser repetidas para que aconteça esta
mudança e que, como resultado, informações sejam armazenadas na memória possibilitando a
retenção da habilidade.
A característica mais marcante dos alunos iniciantes, ou seja, o aspecto que melhor os
caracteriza são os erros de performance. Entretanto, este aspecto é muitas vezes esquecido no
processo ensino-aprendizagem de habilidades motoras. Professores que não respeitam as
limitações na capacidade de processamento de informações dos alunos caem freqüentemente
no imediatismo. Transmitem informações que ultrapassam as capacidades reais de
processamento dos alunos e esperam performances bem sucedidas a curto prazo. Para estes
professores, o importante é o resultado e não o processo de aprendizagem.
No processo ensino-aprendizagem de habilidades motoras é muito importante o feedback do
professor com relação aos erros de performance dos alunos. Este feedback não existe apenas
para informar que os alunos cometeram erros de performance. Ele fornece importantes
informações com relação às mudanças que os alunos necessitam introduzir no seu plano
motor para que, na próxima tentativa, a diferença entre o desejado e o manifesto seja
aproximada a zero. Uma das principais funções do professor é justamente auxiliar o feedback
dos alunos, visto que, embora eles sejam capazes de perceber que o movimento não foi
executado conforme desejado nem alcançado o objetivo, muitas vezes, são incapazes de
detectar a origem do erro e por conseguinte não sabem que mudança introduzir nas próximas
tentativas. Para o professor desempenhar adequadamente esta função, necessita antes de mais
nada, ter a capacidade perceptiva de, a partir da observação do comportamento dos alunos,
detectar erros nas suas performances. E este trabalho, por sua vez, exige como pré-requisito o
conhecimento do mecanismo da performance humana e o processo de aprendizagem motora.
Além do mais, o feedback sobre os erros cometidos pelos alunos fornece informações
relevantes para uma revisão dos objetivos e dos métodos instrucionais adotados.
3. Significado do erro de performance
Diz-se freqüentemente que errar é humano. Esta afirmação não parece indicar a incapacidade
ou a incompetência daquele que erra, mas sim a possibilidade de acertar no futuro utilizandose do erro no passado. E isto faz lembrar o princípio básico da cibernética que é o feedback,
ou seja, a utilização das informações passadas para controlar situações futuras e alcançar o
objetivo.
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Para todo comportamento do ser humano, o objetivo é algo que está para ser alcançado,
portanto ele está no futuro. Por este motivo, os erros de performance, em aprendizagem
motora, devem ser sempre considerados em relação ao objetivo a ser alcançado e não
simplesmente como incapacidade ou incompetência dos alunos (Choshi, 1978).
Além disso, considerando-se que a aprendizagem motora é um processo contínuo onde existe
uma hierarquia de objetivos a serem alcançados, o professor não deve se sentir satisfeito
quando o aluno deixa de cometer erros de performance. Quando isto acontece, é sinal de que
os alunos já alcançaram o objetivo desejado e que não existe mais nenhuma informação útil
entre ele e os alunos. Existe sim um nivelamento na quantidade de informações com relação a
esta tarefa e todas as informações transmitidas a partir de então se transformarão em meros
ruídos. É muito natural que os alunos continuem cometendo erros de performance, não os
mesmos para a mesma tarefa motora, mas sim no processo contínuo de alcançar novos e
novos objetivos. Neste contexto, a aquisição de resposta correta é apenas uma pausa
temporária no processo contínuo de luta contra performances erradas. Desta forma, em vez de
evitar o erro, é preferível procurar adquirir a competência para solucionar os problemas que
cada situação exige, utilizando positivamente os erros e sucessos do passado. Embora seja
claro que o objetivo não é cometer erros, performances erradas aumentam o repertório de
experiências dos alunos, e por elas serem inerentes ao processo de aprendizagem, a sua
freqüência por si só não pode se constituir num verdadeiro problema.
Um indivíduo que comete um erro e tem a capacidade de corrigi-lo, consegue através da
experiência, compreender não só a origem dos erros mas também o mecanismo de predição
destes erros. E, desta forma, é capaz de compreender melhor outros indivíduos que cometem
erros, analisando os erros cometidos dentro do contexto do comportamento como um todo.
Neste sentido, professores que enfatizam respostas corretas têm eles próprios medo de errar e
têm a tendência de criticar erros dos alunos através de uma avaliação dicotomizada, ou seja,
resposta correta ou errada.
Embora exista no processo ensino-aprendizagem de habilidades motoras, um posicionamento
no sentido de buscar uma aprendizagem efetiva fazendo com que os alunos cometam o menor
número possível de erros de performance desde o seu início, o problema não parece ser a
freqüência nem mesmo o erro de performance em si. O problema fundamental é a não
compreensão do mecanismo de detecção e correção dos erros por parte dos alunos. O
desenvolvimento das capacidades de detecção e correção de erro, tão importantes na
aprendizagem motora, só é possível quando se considera o erro e a sua correção como sendo
aspectos inerentes ao processo de aprendizagem motora.
4. Detecção e correção do erro de performance
É muito freqüente responsabilizar apenas os alunos pelos erros que cometem. Porém, com
muita freqüência também, os erros cometidos pelos alunos têm a sua origem nos outros
elementos que constituem o processo ensino-aprendizagem. Em outras palavras, a origem do
erro de performance pode estar tanto no elemento que transmite a informação, no meio
ambiente, como também no elemento que a recebe, processa e utiliza na execução do
movimento.
4.1. O professor como origem do erro de performance
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Partindo do princípio de que o problema fundamental da comunicação no processo ensinoaprendizagem não é a quantidade de informações transmitidas, mas sim a transmissão de
informações adequadas num padrão espaço-temporal adequado (Tani, 1978), o professor pode
se tornar uma fonte em potencial dos erros de performance dos alunos. Entende-se por
informações adequadas aquelas que podem ser efetivamente utilizadas pelos alunos na
solução do problema motor. Estes erros, cuja origem está no professor, devem ser evitados
desde que eles em nada contribuem para o desenvolvimento da capacidade de detecção e
correção de erros por parte dos alunos. E para evitá-los, nada melhor do que conhecer quais os
procedimentos do professor que provocam, com maior freqüência, os erros de performance
dos alunos. Entre várias possibilidades existentes, o professor pode se tornar origem do erro
de performance quando:
a) Não conhece os mecanismos de performance humana e, portanto, é incapaz de transmitir
informações específicas relacionadas com cada mecanismo.
b) Não possui conhecimento sobre o processo de desenvolvimento motor e, como
conseqüência, estabelece conteúdos inadequados às características dos alunos.
c) Não possui conhecimentos sobre o processo de aprendizagem motora e, como
conseqüência, é incapaz de identificar em que fase de aprendizagem se encontram os alunos.
d) Não possui conhecimentos sobre a estrutura da habilidade a ser ensinada e, como
conseqüência, é incapaz de relacionar o conteúdo a ser ensinado e o nível de desenvolvimento
dos alunos.
e) Não leva em consideração a limitação do sistema de processamento do ser humano,
transmitindo muitas informações sem possibilitar, aos alunos, um tempo adequado de
processamento.
f) Não leva em consideração a limitação da capacidade de memória do ser humano,
transmitindo um número demasiado de informações de uma só vez.
g) Não possui habilidade de comunicação e, como conseqüência, transmite informações que
possibilitam diferentes interpretações, confundindo o processo cognitivo dos alunos.
h) Não leva em consideração as diferenças individuais.
i) Não avalia a capacidade de entrada dos alunos, tanto de conhecimentos como de
habilidades e, como resultado, estabelece objetivos muito além das capacidades reais de
processamento dos alunos.
j) Não utiliza estratégias de ensino adequadas às habilidades sendo ensinadas.
l) Não utiliza estratégias de ensino adequadas às características afetivo-emocionais dos
alunos.
m) Não utiliza feedback para rever objetivos e métodos de instrução.
4.2. O meio ambiente como origem do erro de performance
A teoria da comunicação (Shannon & Weaver, 1949) estabelece que quando todos os sinais
emitidos são corretamente recebidos pelo receptor, a quantidade de informação transmitida é
máxima. Porém, em se tratando de processo ensino-aprendizagem, isto raramente acontece.
Por influência do meio ambiente, informações são perdidas ou ruídos são adicionados ao
sistema de comunicação, provocando assim erros de performance dos alunos. Este problema
pode ser evitado:
a) Diminuindo-se o ruído.
b) Aumentando-se o nível de sinais relevantes.
c) Aumentando-se a redundância da informação, ou seja, repetindo-se a informação.
4.3. O aluno e o erro de performance
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Como foi discutido anteriormente, os erros, cuja origem está no aluno, são inerentes ao
processo de aprendizagem. Basicamente, a origem do erro de performance pode estar em
qualquer um dos mecanismos da performance humana, ou seja, órgãos dos sentidos,
mecanismo de percepção, mecanismo de decisão, mecanismo efetor, sistema muscular,
circuitos de feedback, além dos fatores motivacionais e de memória.
Segundo Singer (1982), as características mais comuns do iniciante que levam a erros de
performance são:
a) Dirige sua atenção para um demasiado número de estímulo numa situação.
b) Pensa e preocupa demasiadamente com coisas demasiadas.
c) Falta de habilidade para estabelecer expectativas realísticas para a sua performance.
d) Tem dificuldade com muitas informações fornecidas a um mesmo tempo.
e) Vê cada experiência de aprendizagem como sendo totalmente nova.
f) Falta de estratégia para manipular informações e situações.
g) Falta de conhecimento sobre como e quando utilizar feedback.
h) Falta de confiança e segurança.
i) Dispêndio desnecessário de energia.
Em aprendizagem motora, as fases iniciais são caracterizadas por um grande número de erros
de performance. Para corrigi-los, os alunos devem fazer a avaliação do movimento a cada
tentativa de execução. Esta avaliação é denominada feedback intrínseco e é de fundamental
importância no processo de aprendizagem. Feedback é um termo aplicado às informações
disponíveis durante e após a execução do movimento. Em outras palavras, ele pode ser a
informação sobre o movimento, ou seja, como o movimento está sendo e foi executado e
também sobre o efeito do movimento no meio ambiente, ou seja, o resultado do movimento
em relação ao objetivo a ser alcançado. O primeiro é comumente denominado conhecimento
de performance e o segundo conhecimento de resultado (Marteniuk, 1976).
Após a execução de uma tentativa, os alunos devem ter em sua memória quatro tipos de
informação: a) o objetivo original do movimento; b) o resultado do movimento; c) o plano
motor; d) a maneira em que o movimento foi realmente executado. Nas primeiras tentativas
de execução, existe uma discrepância entre estas quatro informações. O objetivo e o resultado
do movimento raramente coincidem, assim como o plano motor e a maneira em que o
movimento foi executado. Com estas quatro informações, os alunos são agora capazes de
fazer a necessária avaliação de sua performance. O resultado desta avaliação pode ser a
modificação do objetivo inicial e ou plano motor numa tentativa de produzir movimentos bem
sucedidos. Através de repetidas tentativas com avaliação e eventual modificação após cada
tentativa, o movimento tornar-se-á mais consistente e efetivo. Em outras palavras, será
observado um melhoramento na performance devido ao processo de aprendizagem.
Quando o objetivo for alcançado pela execução de um movimento conforme planejado
(sim/sim na tabela) pode-se considerar que o indivíduo adquiriu a idéia do movimento, e de
acordo com lei empírica do efeito, a possibilidade do mesmo plano motor ser usado na
próxima tentativa se torna bastante alta. Em outras palavras os dois tipos de feedback
reforçarão a ocorrência da mesma resposta.
No caso em que o objetivo não é alcançado mas o movimento é executado conforme
planejado (não/sim na tabela), o indivíduo notará que algo está errado com o plano motor. A
revisão do plano motor é uma estratégia lógica para a resposta seguinte. Se, por acaso, após
algumas revisões, as respostas "não" para o resultado e "sim" para o movimento prevalecer,
uma estratégia diferente deve ser considerada. Talvez o problema esteja na identificação e
seleção das informações mais importantes do meio ambiente. As informações importantes
podem não ter sido identificadas. Ao contrário, o indivíduo pode estar respondendo às "dicas"
erradas.
Uma surpresa é experimentada quando o objetivo é alcançado mas não através do movimento
conforme planejado (sim/não na tabela). Neste caso, é interessante saber qual será a estratégia
a ser aplicada na próxima tentativa. Existem basicamente três alternativas: a) repetir o plano
motor que, embora executado erradamente, resultou num movimento bem sucedido; b)
executar o movimento conforme foi originalmente planejado; c) executar ambas as
alternativas para depois decidir qual é a correta.
O último resultado, ou seja, quando o objetivo não foi alcançado nem o movimento executado
conforme planejado (não/não na tabela), pode levar o indivíduo a adotar várias estratégias.
Uma delas seria repetir o plano motor originalmente planejado. Se o resultado for novamente
uma falha completa, o indivíduo poderá fazer uma revisão do plano, reavaliar as condições do
meio ambiente ou mesmo alterar o objetivo.
Nas fases iniciais da aprendizagem, embora os alunos sejam capazes de perceber que algo está
sendo executado erradamente, muitas vezes eles são incapazes de detectar as origens e as
características do erro cometido. Nesta situação, cabe ao professor fornecer informações
específicas no sentido de assisti-los na detecção e correção do erro. Estas informações
fornecidas pelo professor para facilitar a avaliação do movimento executado são denominadas
feedback aumentado ou extrínseco.
Para determinar exatamente que tipo de feedback aumentado é necessário, o professor deve
diagnosticar a performance dos alunos. Em outras palavras, é preciso fazer uma análise da
habilidade e com base nas informações obtidas, a partir desta análise, sugerir alterações que
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devem ser feitas. É importante lembrar que para se fazer a análise da habilidade, o professor
necessita conhecer além dos mecanismos envolvidos na execução do movimento, as
características das habilidades que estão sendo aprendidas.
Uma vez concluída a análise da habilidade, é prudente o professor não fornecer feedback
aumentado logo depois que os alunos completam a execução de um movimento. Porque neste
momento, os alunos devem ter a sua atenção dirigida no sentido de atender seletivamente e
codificar as informações mais importantes e qualquer interrupção deste processo poderá
resultar num esquecimento imediato. Após um intervalo suficiente de tempo para que os
alunos possam fazer, por si mesmo, a avaliação do movimento executado, o feedback
aumentado pode ser fornecido. Existem diversas formas para tanto, como por exemplo,
descrição verbal, demonstração e a utilização de material audio-visual.
Com o prosseguimento do processo de aprendizagem, os alunos desenvolvem dentro de si
uma referência para se comparar as suas performances, e portanto, não necessitam mais do
feedback aumentado fornecido pelo professor. O ideal em aprendizagem motora é que os
alunos desenvolvam o seu mecanismo de detecção e correção de erros e que sejam capazes de
fazer a auto-avaliação.
5. Conclusão
Toda e qualquer ação educativa está relacionada com a organização do comportamento. O
processo ensino-aprendizagem de habilidades motoras não é exceção. Movimentos
inicialmente desordenados e inconsistentes dos alunos são gradativamente organizados
através do processo de aprendizagem e do auxílio do professor.
Por estar relacionado com o processo de organização, ou seja, diminuição de respostas
erradas, a educação muitas vezes valoriza demasiadamente as respostas corretas. Procura
transmitir aos alunos uma série de informações para que os mesmos tenham uma sucessão de
respostas corretas. Testes são ministrados onde apenas as respostas corretas são valorizadas.
Todavia a valorização demasiada de respostas corretas leva, freqüentemente, ao imediatismo.
O imediatismo, como a própria palavra indica, é incapaz de esperar. Espera sim performances
bem sucedidas a curto prazo. A visão de futuro, de desenvolvimento, enfim de mudança dos
alunos não tem lugar no imediatismo.
Estes procedimentos refletem o não reconhecimento do processo de aprendizagem e a
conseqüente valorização excessiva do produto da aprendizagem. Embora toda e qualquer
aprendizagem vise a obtenção de respostas corretas, pelo fato da mesma ser um processo
contínuo, a aquisição de respostas corretas é apenas uma fase em todo este processo.
Respostas erradas as sucederão porque existe na aprendizagem uma hierarquia de objetivos a
serem alcançados. Quando se atinge um objetivo (resposta correta), novos objetivos são
estabelecidos. Este é um comportamento característico dos sistemas abertos (Bertalanffy,
1956).
O erro de performance é inerente ao processo de aprendizagem motora. Existe portanto, a
necessidade de considerá-lo um elemento importante na aprendizagem e tentar utilizá-lo para
tornar a aprendizagem mais efetiva. O problema, neste caso, não é o erro em si, mas a não
compreensão do mecanismo de detecção e correção deste erro. O desenvolvimento deste
mecanismo é considerado de fundamental importância na aprendizagem motora (Adams,
1971).
Referências bibliográficas
ADAMS, J.A. (1971). A closed-loop theory of motor learning. Journal of Motor Behavior, 3, 111-150.
BERNSTEIN, N. (1967). The co-ordination and regulation of movements. Oxford: Pergamon.
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CHOSHI, K. (1978). Shoshinsha to undogijutsu no gakushu (O iniciante e a aprendizagem da técnica de movimento). Taikukakyoiku 26, 8-10.
CONNOLLY, K. (1970). The nature of motor skill development. Journal of Human Movement Studies, 3, 128-143.
FITTS, P.M. & POSNER, M.I. (1967). Human performance. Belmont, California: Brooks/Cole.
GAGNÉ, R.M. (1977). The conditions of learning (3rd. ed.). New York: Holt, Rinehart and Winston.
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WELFORD, A.T. (1968). Fundamentals off skill. London: Methuen. Texto publicado como artigo: Tani, G. (1989). Significado, detecção e correção do erro de performance no processo ensino-aprendizagem de habilidades motoras. Revista Brasileira de Ciências & Movimento, 3, 50-58.
Texto publicado como artigo: Tani, G. (1989). Significado, detecção e correção do erro de performance no processo ensino-aprendizagem de habilidades motoras. Revista Brasileira de Ciências & Movimento, 3, 50-58.
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